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Temos uns aos outros

O rapper tomado em seu conceito, é responsável por levantar o questionamento, não pelo protesto que se agita e tumultua, a inquietação que move o espírito quer resolver-se com os problemas e neste sentido Emicida mexe com o ânimo para envolver aqueles que se sentem identificados, a favela não aceita nenhum tipo de opressão.
O inquietante disso tudo é que o movimento vai além das fronteiras que se fecham no morro para alcançar os brasileiros de todos os quadrantes, pois se referem ao povo negro que ajudou a construir o Brasil e fundamental para a compreensão do país enquanto nação.
Assisti ontem ao documentário Amarelo: É Tudo Pra Ontem, não consegui tirar da cabeça o que Emicida se referindo ao espírito que o anima, “temos uns aos outros”; trata-se de uma frase que sintetiza a reflexão e anima o pensamento, a identidade é essencial, recobramos a memória que nos mantém ligados aos ancestrais, pois eles lutaram para que nós pudéssemos ser felizes.

O passado vive na memória entendida como desejo de realização, o presente abdicou da eternidade para buscar o futuro que vem ao encontro, o fato é que eu me atenho a mim mesma e neste sentido me volto para o outro com quem lutamos pelo reconhecimento; eu sei qual é a minha importância em meio ao movimento que avança para bem além de qualquer um, mas a luta pelo direito abre o caminho ao tipo de direito que nos constitui a personalidade, não a que se impõe pela força para exigir o respeito, mas a que se apresenta consciente e olha nos olhos.
A identificação está presa à ideia autoritária, aquele que se identifica apela para a autoridade e termina sucumbindo ao autoritarismo na medida em que rebaixa a ordem à determinação, pois dentro dos limites identitários a liberdade não passa de um arbítrio que não pode identificar o sujeito no princípio da ação.
Reconhecer, reconhecemos o outro e estranhamos os familiares, começamos a perceber a gente para muito além dos limites do entendimento quando questionamos a ideia que fazemos de nós mesmos, vamos abandonando os preconceitos que entendemos terem sido criados para conservar a família protegida dentro de muros que terminam embotando a percepção.

Na medida em que nos voltamos para o mundo e percebemos a beleza que se mistura à realidade, vamos abrindo a cabeça para reconhecer no outro uma possibilidade do desenvolvimento, entende-se, o outro não é o diferente nem o estranho, nós apenas não nos conhecemos o bastante para compreendê-lo no indivíduo que se define sujeito de direito.
O cidadão não limita a ação para fazer a figura desprestigiada do moralista, uma vez que ele encarna o propósito e compreende a si mesmo como elo entre a moral e a ética, portanto, não opomos a comunidade e a sociedade que faz sentido para nós que nos entendemos quanto à vontade.

 

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