Olá, devanetes (leia-se: aqueles adeptos das reflexões que trago aqui. Não tem gênero, é só uma expressão). Nestes últimos e oportunos momentos da Quaresma e da Semana Santa propriamente dita, dias que antecedem a Paixão e a ressurreição de Jesus, como rememoram os cristãos, quero trazer uma reflexão e, claro, abrir espaço pra devolutivas:
O QUE É VERDADE PRA VOCÊ?
Na Bíblia, em vários momentos, fala-se sobre a verdade, e uma das passagens que considero mais célebres diz: “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. (João 18:37).
Para manter um mínimo de organização social, o Estado e suas leis não podem estar sempre olhando as particularidades, e, para isso, temos leis que regulam, ordenam um “dever ser”, e, de vez em vez, são revistas, justamente para “acomodar” as mudanças das relações sociais e suas transformações. Porém, podemos, através da judicialização, propor ao Estado que entre e decida o que é verdade em um determinado conflito: quem está com a verdade?
Mas, ora, será que temos sempre a verdade? Guardado o devido respeito a essa instituição chamada Poder Judiciário e ao seu aparelho montado, quero aqui dizer que é muito complexo esse lance de julgar a verdade.
Podemos aqui já tirar uma grande ideia comum: a verdade assume a versão do sujeito que conta, a partir da visão de mundo, do conhecimento, da referência da criação da sua história de vida, da religião que comunga, enfim, da ética e da moral em que se baseia, dos valores e sentido de vida da pessoa, entendendo que, a partir de sua verdade, assume e decide quais caminhos tomar.
Tendo em vista, portanto, de tratar-se de uma proposição tão filosófica e que envolve a subjetividade humana, proponho essa dinâmica diferente. Convido que pegue um papel e lápis e escreva, de forma simples e clara: o que é verdade para mim? (Com atenção, sobremaneira, que, ao responder, não vale a mentira, o falseamento da resposta).
Observem que, a partir dessa verdade, “arquitetonicamente esquadrinhada”, começamos a compreender como nossas atitudes, escolhas, conflitos, vivências são “desenhados”.
Portanto, quando falo de descobrimos nossas referências de vida, e a congruência das mesmas em nosso cotidiano diário, podemos construir, com mais clareza, as nossas verdades, e tão importante quanto: lembrar sempre que o outro também tem as suas. E que, assim sendo, na convivência, é preciso buscar a interseção de pontos em comum, ou no mínimo, uma compreensão desse conceito, para não nos tornamos pessoas “sem noção”.
Assim como bem mencionou Sartre: “O primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir total responsabilidade de sua existência. E quando dizemos que o homem é responsável por si próprio não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens.”
Sim, galera, a verdade sobre nós: a congruência edifica. Assim como diz no livro “Trilogia da Existência”: “Na compreensão de seus próprios limites, o homem tenta compreender o mundo da mesma forma que utiliza tal compreensão para se autocompreender; por isso, dizemos que há uma relação de reciprocidade em que o indivíduo tem como proposta o autogerir, ou seja, evoluir a partir de si mesmo, a cada momento, e isso só pode ocorrer enquanto se relaciona com o mundo (feedback).” Tereza Erthal.
*Marcela Mastrangelo é socióloga, bacharel em Direito, e possui diversas formações em cursos nas áreas de Antropologia, Educação, Ciências Políticas e terapias relacionadas ao autoconhecimento. Atualmente, está no ano de conclusão do curso superior em Psicologia. (Contato: Instagram @marcelamastrangelo).