O promotor de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania do Ministério Público do Acre (MPAC), Thales Ferreira, denunciou, nesta quarta-feira, 16, na Câmara de Rio Branco, que o casal de idosos dono do imóvel para onde o Centro Pop seria transferido, na Baixada da Sobral, recebeu graves ameaças dos moradores da regional.
A declaração foi dada durante debate, promovido pelo parlamento-mirim, sobre a realocação do Centro Especializado para População em Situação de Rua para bairros de Rio Branco. Atualmente, ao órgão funciona na região central da cidade, porém, a estrutura se encontra em condições precárias e não comporta mais o serviço.
Devido as hostilidades, os proprietários desistiram de alugar o prédio para a prefeitura, informou, indignado, o promotor de Justiça, que recomendou o espaço à administração pública por estar próximo a estruturas estratégicas para a população de rua, como UPA, CRAs, Hosmac, delegacia, restaurante popular, entre outros.
“Não quero, de forma alguma, que os proprietários do imóvel morram de hipertensão e AVC causados pela pressão política, da imprensa, dos abaixo-assinados e das ligações que eles recebem o dia todo para não permitirem que eles aluguem a casa. Não quero sujar minhas mãos de sangue”, declarou Thales.
Ele disse que houve até mesmo ameaças de incendiar o imóvel caso fosse alugado para o poder público.
Thales foi o autor da ação, julgada procedente pela Justiça, que deu prazo de 90 dias para a prefeitura de Rio Branco reestruturar o Centro Pop, o que passa pela transferência do órgão para outro endereço.
“O Centro Pop atual não é um local adequado para receber essas pessoas de forma digna. O órgão se encontra totalmente desvirtuado e precisa se reestruturar para melhor atender a população de rua”, completa.
“A escolha do imóvel na Baixada da Sobral foi puramente técnica. Jamais esperávamos que a pressão política sobre dois idosos seria tamanha a ponto de prejudicar a saúde deles, que hoje vivem de portas fechadas e não aguentam mais receber telefonemas de moradores. Nunca imaginei uma situação dessas”, lamentou.
Reforço da Associação Comercial
A Associação Comercial do Acre (Acisa) também participou do debate e reforçou a importância da retirada do Centro Pop da região central de Rio Branco. O motivo, segundo Marcello Moura, que representou o órgão no evento promovido pela Câmara, é que os comerciantes não aguentam mais os problemas causados pela presença de pessoas em situação de rua naquela localidade, como furtos e sensação de insegurança.

“Ouvimos os comerciantes do Centro da cidade e eles estão com as mãos na cabeça, sem saber o que fazer. Alguns já trocaram fiação dezenas de vezes. Algo precisa ser feito, senão o nosso Centro deixará de existir”, disse.
Segundo Moura, a 10 anos atrás os empresários do Centro de Rio Branco gozavam da melhor circulação de pessoas e de capital na cidade, situação que mudou após o aumento da população em situação de rua.
Ele defendeu que o poder público implemente não só políticas paliativas para essas pessoas, mas, sim, ações estruturantes, visando a superação de suas condições. “Humanamente falando, precisamos, enquanto sociedade, garantir o melhor para essas pessoas em situação de rua e, para isso, o Centro Pop precisa mudar de endereço”.