O uso das chamadas canetas emagrecedoras, medicamentos injetáveis indicados para o controle do peso, cresceu de forma expressiva nos últimos anos. Com a popularização do tratamento, uma dúvida passou a ganhar espaço nos consultórios e nas buscas online: essas medicações podem reduzir a eficácia dos anticoncepcionais?
De acordo com a ginecologista e obstetra Rafaela Britto, formada pela UniRio e com residência no Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, a resposta é: sim. Mas isso só ocorre em situações específicas. O alerta, no entanto, não se aplica a todos os métodos contraceptivos, e entender essa diferença é fundamental para evitar uma gravidez não planejada.
Segundo a especialista, a principal preocupação envolve a pílula anticoncepcional, que depende diretamente da absorção pelo trato gastrointestinal para funcionar corretamente. Algumas canetas emagrecedoras atuam retardando o esvaziamento gástrico e alterando o trânsito intestinal. Na prática, isso pode modificar o tempo e a quantidade de hormônio absorvido pelo organismo.
“Não se trata de uma interferência direta no hormônio do anticoncepcional, mas de uma alteração na forma como ele é absorvido”, explica a médica. Essa redução temporária nos níveis hormonais pode comprometer a proteção contraceptiva, especialmente no início do tratamento ou após ajustes de dose.
Além disso, ela destaca que os métodos contraceptivos que não passam pelo sistema digestivo mantêm sua eficácia inalterada. É o caso do DIU hormonal ou de cobre, implante subdérmico, injeção contraceptiva, adesivo e anel vaginal. “O DIU de cobre, por exemplo, não sofre qualquer interferência, já que não depende de hormônios nem de absorção intestinal”, destaca a médica. O mesmo vale para métodos hormonais não orais.
O risco é igual para todas as mulheres?
Não necessariamente. A especialista explica que o risco varia de acordo com alguns fatores: o tipo da medicação utilizada, a dose, o tempo de uso e o metabolismo individual. Além disso, efeitos colaterais comuns das canetas emagrecedoras — como náuseas e vômitos — podem agravar a redução da absorção da pílula.
Por isso, duas mulheres usando o mesmo medicamento podem ter respostas diferentes em relação à eficácia contraceptiva.
O alerta não é apenas teórico. Ele se baseia em dados farmacológicos e observações clínicas que demonstraram redução da absorção de anticoncepcionais orais em determinadas circunstâncias. Embora o número de falhas documentadas ainda seja limitado, a conduta preventiva é recomendada justamente para evitar riscos desnecessários.
O que fazer para evitar falhas?
Para quem utiliza pílula anticoncepcional, a recomendação é clara: associar temporariamente um método de barreira, como o preservativo, nas primeiras semanas após iniciar o tratamento ou após mudanças de dose.
Outra alternativa, considerada mais segura, é migrar para um método não oral e de alta eficácia, como o DIU ou o implante. “Sempre priorizamos métodos que garantam máxima proteção durante esse período”, afirma a médica.
Para mulheres que fazem uso simultâneo de anticoncepcional e canetas emagrecedoras, o acompanhamento médico é indispensável. Avaliar o método contraceptivo, identificar os períodos de maior risco e orientar sobre sintomas gastrointestinais fazem parte de um cuidado essencial para garantir segurança contraceptiva e planejamento reprodutivo adequado.
“Antes de iniciar o tratamento para emagrecimento, o ideal é reavaliar o método anticoncepcional e discutir alternativas mais seguras”, conclui Rafaela. “Informação e orientação personalizada continuam sendo as melhores aliadas da saúde feminina.”
Por Correio Braziliense





