A inveja é uma úlcera aberta. Onde quer que no mundo haja um trono, pode-se observar, detalhadamente, toda a loucura e a maldade de que o ser humano é capaz, sob o esmalte das boas maneiras e o dourado da hipocrisia. Matam-se almas e mentalidades de gerações e gerações, a sangue frio, pelo simples fato de um líder bizarro qualquer não ir com as fuças de outros. Basta prestar atenção para o debilóide máximo da atual Venezuela. Concordemos: ter um cara desses de vizinho não é aconselhável a Hitler no inferno.
O império romano foi uma superpotência e viveu seu apogeu por, aproximadamente, trezentos anos. Foi aí que começaram a aparecer os vizinhos pobres – ditos bárbaros – que passaram a solapar as bases de Roma que, nos dias que correm, ainda se diz eterna. A partir de então, o poderio dos latinos foi sendo, paulatinamente, desbaratado, desmembrado, destruído em seu conceito de soberania e grandiosidade.
A Inglaterra foi a senhora dos mares por pouco mais de cem anos, tendo, antes, usurpado tecnologias portuguesas, holandesas e francesas, dentre outras. De repente, deu asas à imaginação de um filho robusto e, hoje, naturalmente, vive sob a sua proteção pela terra, pelo ar e pelo mar. Sim, os Estados Unidos, conforme Geoffrey Blainey – Uma breve história do mundo (São Paulo: Fundamento, 2007) – passaram de uma situação de súditos a uma posição de senhorios. A velha Inglaterra, de tantas colônias, no passado, hoje não passa de um nobre protetorado americano e judeu, com certeza, posto que são estes últimos os grandes financistas do capital internacional e da cobiça das superpotências. (É bom deixar claro que Israel não deve desaparecer do mapa, como quer o Ahmadinejad, o déspota do Irã.)
A China dos dias atuais alcançou um patamar de desenvolvimento louvável, embora os seus problemas sociais flutuem pelas águas do Amarelo e remontem à dinastia Ming. A Índia também prospera, mas o atraso das mentalidades hinduístas ainda atira os seus mortos nas águas barrentas dos rios Indo e Ganges. O Brasil, cujo povo é o mais bonito do mundo, hoje uma super-colônia que viceja no quintal dos Estados Unidos, ainda convive com a corrupção, com a produção e o tráfico de drogas, com a violência dos morros insalubres e com um sistema educacional que não forja os talentos de que tanto necessita para alcançar o pleno desenvolvimento. Aqui, certamente, no mais das vezes, a competência técnica é colocada de lado em detrimento do compadrio e da barganha cartorial, como tem ocorrido desde os tempos da Colônia.
Mas é oportuno tentar uma abordagem sobre a questão Brasil no âmbito das relações com o G8, o grupo dos oito países mais espertos do mundo, dentre os quais eu não me incluo, até porque sou um mero caboclo amazônico que é leal porque assim aprendeu e porque gosta.
Um dos nossos vizinhos mais próximos, o mais próspero – o mais astuto entre todos – esse, sim, como os outros, deve ser tratado com respeito. Não como o faz esse tonto, o Hugo Chávez, que pensa tripudiar, mas é tripudiado. Sim, é conveniente não dormir porque os americanos podem burlar a vigilância e levar o pouco da dignidade que já conseguimos ter, apesar dos séculos de escravidão sob o couro cru da chibata lusitana.
Vigiai e orai, porque não sabeis quando será chegado o dia ou a hora. Assim registrou Mateus, nas Sagradas Escrituras.
Entretanto, depois dos estilhaços, bom é notar que o novo ministro do Meio Am-biente, Carlos Minc, tem razões de sobra para sugerir que o Exército deve vigiar e punir quem atravessar a fronteira. Qualquer estrangeiro, notadamente esses vinculados às Ongs internacionais, deve passar por uma quarentena, a pão e água, sob vigilância atenta, para que, aí, sejam detectados os seus reais propósitos.
Eliminem-se da face da Terra esses abjetos traficantes de drogas e feiticeiros do absurdo. Esses piratas da modernidade usam de novas estratégias, mas os fins se assemelham aos dos celerados de outrora.
É claro que esta abordagem é feita, aqui, a grosso modo. Há muito abandonei as fileiras do Exército e o gorro. Mas pensemos no fato de que há um punhado de quase caudilhos, oficiais e suboficiais, sargentos e meros praças, refestelados no aconchego dos seus apartamentos, sustentados por robustos soldos, no Rio de Janeiro, em Brasília ou no Manoel Julião… A nova pátria desses medalhões deverá ser os recantos da Amazônia, em Tabatinga, quem sabe, ou mais ao norte, na região da cabeça do cachorro, o rincão mais inóspito deste país. Os salários são bons e o retorno em serviço, um dia, quem sabe, deverá ser melhor ainda. Hoje, em qualquer clareira da mata, pode-se muito bem instalar aparelhos de ar-condicionado e ver televisão a cores. Os ashaninkas, por exemplo, estão plugados na internet e poderão ser os nossos soldados camuflados pela rede mundial de computadores… E nem será preciso vencimentos tão exorbitantes…
Há, certamente, algum egoísmo nas minhas palavras. Nós temos onde plantar alimentos em quantidade suficiente para suprir as demandas nacionais e, ainda, oferecer assistência técnica para que a América Central produza (plante) mais e faça menos confusão, em que pese estar entendendo a tempestade moral que se abate há séculos por sobre aqueles povos a partir de líderes corruptos e imbecis. (Até o povo do Vale do Juruá, no recanto norte do Acre, a partir dos esforços da nossa Seater, haverá de um dia, enfim, entender a utilidade da merda do boi.)
Os biocombustíveis deverão ter incentivos do Governo Federal, porque há um infinito de áreas degradadas que deverão ser recuperadas para o plantio das espécies que lhes servem de matéria-prima, como a cana-de-açúcar, a mamona, dentre outros. Basta que os interesses escusos e a ganância doentia sejam fiscalizados com mão de ferro por quem de direito, quiçá, um Ministério da Justiça remodelado em quadros de policiais federais em números suficientes para uma demanda do tamanho do Brasil.
Hoje já contamos com uma reserva de petróleo que nos tornou uma das nações mais competitivas do mundo; e isto deixa os Estados Unidos pouco à vontade. Já dominamos e somos detentores das tecnologias dos biocombustíveis a partir da cana-de-açúcar, dentre outros. Tornamo-nos preparados para, em futuro próximo, celebrarmos a nação a que Ariano Suassuna se refere. Estamos a um passo de juntarmos o conceito de justiça à prática da liberdade, e vice-versa.
O vizinho rico tem medo de que o vizinho verde-amarelo progrida. Nas minhas Janelas do tempo está registrado que os grandes mantenedores da instrução das nações periféricas – FMI e Banco Mundial – não querem ver o terceiro mundo competindo com as nações que devoram as demais. Aos pobres restam apenas as migalhas do banquete dos ricos. Se os nossos negros, mulatos e brancos pobres tiverem educação de qualidade, não será difícil, em pouco tempo, sobrepujarmos os tigres asiáticos, os ursos da América do Norte e o preconceito europeu.
Em verdade vos digo. Há que observar um aspecto curioso da sociedade humana: raramente tomamos medidas preventivas para evitar desastres, mesmo quando a exata natureza da calamidade é conhecida por todos.
Tchau, mamãe e filhos homens! Nem é preciso ser convocado pelo Ministério da Defesa. Estou feliz e vou para o front!
* José Cláudio Mota Porfiro é escritor. Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Autor de Janelas do Tempo; Tardiamente ou nunca mais; Literatura de Cordel, Alfabetização e Formação da Consciência Crítica; A Expropriação do Ser Numa Perspectiva Filosófico-Antropológica, dentre outros.