A educação sempre se apresenta como o grande desafio para a humanidade. E não adianta mascarar o processo porque ele se reflete no cotidiano das famílias, das escolas, das pessoas com quem lidamos no dia-a-dia. Assim, algumas coisas precisam ficar bem claras, sempre. E repeti-las nunca é demasiado. Como sempre estive ligada ao campo educacional, sei o significado de educar, educar para a vida, educar para uma profissão, educar para o convívio social, educar para a cidadania.
Dessa forma, não se pode pensar em educação sem analisar o contexto social, político e econômico em que ela é gerada. Devido ao quadro de desigualdade, de heterogeneidade que caracteriza a sociedade brasileira, nossa educação é considerada uma das piores do mundo. Segundo o Projeto Pisa (Pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que avaliou alunos de 40 países, o Brasil ficou com 370 lugar em Leitura, 390 lugar em Ciências e 400 lugar em Matemática. A pesquisa também mostrou que 80% dos nossos estudantes está entre o nível de aprendizado insuficiente e péssimo.
Este é o resultado de um país onde a educação deixou de ser a prioridade, em detrimento a inúmeros interesses secundários, haja vista o orçamento destinado aos salários de quem educa. Sob este aspecto, precisamos pensar na formação e função do professor como “construtor” das bases de uma criança, não apenas pelo que ela é, mas também pelo que ela virá a ser para o mundo.
De outra parte, não se pode perder de vista que a tarefa de educar as crianças, os jovens, é da família. A escola é um poderoso coadjuvante, mas apenas um coadjuvante. É na família, com a experiência viva do empírico, que os valores importantes são firmados. E a didática familiar não é filosoficamente criada a partir de educadores famosos, tampouco se funda na esteira de elaborações dos doutores dos governos, responsáveis pelos programas oficiais de ensino.
Assim, compreende-se que a educação na família se faz pelas coisas que são ditas, mas mais vivamente pelas coisas que são feitas. Já se disse que “as palavras convencem, o exemplo arrasta”. A vivência do cotidiano da casa, os hábitos das pessoas que circundam os jovens, sua forma de agir e reagir aos acontecimentos da vida, tudo isso forma uma influente rede de informações que tendem a se enraizar naquele ser em formação.
O imortal Paulo Freire, no clássico livro Pedagogia do Oprimido, afirma que “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. É justamente na ação-reflexão do cotidiano, em que vida se desenrola e vai-se indo entre afazeres e trabalho, que ocorre a apreensão dos valores pela criança, a partir da observação do comportamento dos adultos.
Finalizando, convido o amigo leitor, ou leitora, a olhar a sua volta e se perguntar o que os seus fazeres estão a ensinar aos filhos, aos jovens. Aliás, proponho uma nova ação-reflexão aos amigos, todos, de pegar aos filhos pelas mãos e andar vagarosamente pela praça mais próxima, pela beira do rio, a conversar com eles, mostrando como é a vida e o que é preciso fazer para melhorá-la. Usufrua deste vagar, pois é no “de-vagar” que a vida realmente acontece e a educação se consolida. E as palavras são as roupas dos pensamentos que, da mesma forma que uma pessoa, não devem ser apresentadas em farrapos, descompostas e sujas.
DICAS DE GRAMÁTICA
STRESS ou ESTRESSE?
– Antigamente falava-se em estafa. Hoje temos a palavra inglesa stress que, porém, já está abrasileirada (ou aportuguesada, se preferirem). Quem quiser ficar estressado agora, sinta-se à vontade. A forma portuguesa é ESTRESSE.
SILÊNCIO NO TRIBUNAL!
– Certa vez, em pleno julgamento, uma senhora dirigiu-se ao juiz, dizendo: Meretríssimo! O advogado interveio: o certo é Meretíssimo! E o juiz, desconsolado, gritou: Silêncio no tribunal! Agradeço os elo-gios, mas o certo é Meritíssimo! Estou aqui pelo mérito de estudar. Por que vocês não consultam as dicas gramaticais da Professora Lessa?
LACTANTE ou LACTENTE?
– Lactante é a mãe ou uma mulher que amamenta a criança de peito. Já o lactente é o bebê que está em idade de mamar. E quem não chora…
Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.