Contratação de agentes, novo larvicida, fumacê, acompanhamento semanal e ampliação de atendimento. Apesar disso e muito mais, a dengue provou a sua fama de inimigo no 1 da saúde pública brasileira, contornou ações do poder público e conseguiu evoluir desde a metade deste mês à fase de epidemia em Rio Branco. Para mostrar o quanto a situação da doença é grave na Capital, o secretário municipal de Saúde, Pascal Khalil, concedeu entrevista ao jornal A GAZETA e explicou grande parte do trabalho feito pela prefeitura para conter o avanço desse grande mal chamado aedes aegiptys.
Pascal Khalil explicou a situação de epidemia em Rio Branco
De acordo com o secretário de Saúde, a atual epidemia de dengue na cidade significa quatro coisas. Primeiro, ela já atingiu um número relativamente grande no total de casos. Segundo, há ainda uma tendência forte de crescimento para as notificações, o que inclui as 3 fases da dengue local (a clássica, a com complicações e a hemorrágica). Terceiro, o mosquito, mesmo com variações, já se propagou em praticamente todos os bairros de Rio Branco. E, por último, mais do que nunca é o momento de redobrar os esforços, tanto do poder público, quanto da população, para conter o vetor da doença.
“A epidemia é uma situação que já está previamente definida por aqui bem antes mesmo de acontecer. O nosso clima, por exemplo, é um fator extremamente favorável ao mosquito da dengue. Quando chega o ‘inverno’, a cidade oferece todas as condições para que ele se propague. É quando as notificações aumentam. Ele se tornou muito forte por aqui. Assim, desde o final de 2009 estamos prevendo um quadro como este, nos reorganizamos para atuar no enfrentamento ao vetor da doen-ça e alertar a todos sobre esse problema; o quanto ele é grave e preocupante para todos nós”, lembrou Pascal.
Em outras palavras, trata-se de uma luta (ou ‘guerra’, como chamam alguns) que já comprovou várias vezes que só poderá ser vencida se for levada a sério por toda a sociedade. E não é para menos, haja vista que no ano passado foram mais de 5,2 mil notificações na Capital (quase 18 mil no Estado inteiro), com maior incidência entre o final de dezembro até a metade de fevereiro (momento atual em 2010).
Neste ano, a nova epidemia já teria ocasionado só nas três primeiras semanas epidemiológicas (3 a 23 de janeiro) um total de 2,25 mil notificações. Na 1ª semana (3-9) foram 444 casos notificados, na 2ª (10-16) 812 ocorrências e na 3ª (17-23) há uma estimativa da Semsa de que sejam cerca de 1.000 avisos. E o mais preocupantes é que das 2,25 mil notificações 16 suspeitas de dengue hemorrágica, 1 morte já foi confirmada (bebê de 11 meses) e mais 4 óbitos estão sob investigação. Isto é, se as pessoas não se preocuparem mais, é bem provável que este ano termine igual ou até pior ao de 2009.
Diante deste quadro, a prefeitura se desdobra para cada vez mais ampliar a sua atuação. Conforme o secretário Pascal Khalil, o Plano de Contingência de Combate ao Vetor (principal mecanismo da administração municipal para guiar as ações contra a doença) foi atualizado entre novembro e dezembro de 2009. Atualmente, a Secretaria Municipal de Saúde trabalha com ele em 3 eixos principais: vigilância e monitoramento, controle e prevenção do vetor e assistência/atendimento aos contaminados.
Vigilância e Acompanhamento Epidemiológico
Para acompanhar as etapas em que se encontra a dengue na Capital e basear as ações mais adequadas para cada momento, o Plano de Contingência da prefeitura prevê táticas constantes de monitoramento ao vetor. Conforme Pascal Khalil, toda a equipe de vigilância foi treinada a recolher semanalmente o número de notificações das unidades públicas e privadas de saúde da cidade. Esta tarefa resulta nas semanas epidemiológicas. E, para complementar, a Secretaria ainda divide tais notificações por bairros e unidades e conta com estudos e levantamentos atuais sobre as condições do vetor.
Exemplo da vigilância: os bairros de Rio Branco com maior incidência de casos notificados durante as três primeiras semanas epidemiológicas são: Jardim Primavera (1º lugar), Amapá (2º), Loteamento Santo Afonso (3º), Floresta (4º), Triângulo Novo (5º), Estação Experimental (6º) e Vila Acre (7º).
Os mais de 100 agentes de endemias estão visitando todos os bairros da cidade
Assistência/atendimento
Quanto à assistência, Pascal Khalil contou que há um forte indicativo de que a prefeitura abrirá o posto Barral y Barral para atendimento exclusivo de usuários com dengue a partir de terça ou quarta-feira desta semana. Para isso, ele adianta que serão ampliados 44 leitos de observação no posto de saúde e o horário de funcionamento para o público será estendido até às 22h (ele abre às 7h). Posteriormente, o funcionamento poderá ser aumentado para 24 horas por dia, caso seja necessário
Além disso, o Barral y Barral terá um laboratório de hemograma para garantir mais qualidade no atendimento aos usuários e segurança nos diagnósticos.
“A nossa assistência melhorou muito em relação ao ano passado. A prova disso é que os dois postos que mais têm registrado notificações na cidade são as UPAs do 2º Distrito (1º) e do Tucumã (2º), que são unidades que nem sequer existiam no começo de 2009. Também capacitamos o atendimento de todas as outras unidades de saúde a como proceder diante de um caso suspeito da doença ou mesmo para orientar sobre o melhor lugar para tratamento. E agora, diante deste aumento de casos, vamos estender o atendimento do Barral y Barral para reforçar este trabalho”, avaliou Pascal.
Em relação aos médicos, o secretário anunciou que a prefeitura, em parceria com o governo estadual, está preparando reforços à equipe de profissionais que atenderá no Barral. “Estamos contratando vários médicos dessa nova turma formada em janeiro e também am-pliando o quadro de enfermeiros e técnicos em enfermagem”, detalhou.
Ainda em relação à assistência, é importante ressaltar que em caso de suspeitas de dengue (sintomas: febre alta de 39 a 40º C, cansaço, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, indisposição, enjôo e vômitos, aparição de manchas vermelhas na pele e dores abdominais) é preciso procurar logo os postos de saúde para tratamento ou medicação adequada. A auto-medicação pode agravar e muito o quadro do paciente.
O atendimento à dengue hoje é sustentado pelas UPAs; a meta é derecioná-los para o posto Barral y Barral
Outros 6 pontos de enfrentamento
Além destas três diretrizes básicas, a Secretaria possui outras seis estratégias no seu Plano de Contingência para agir em todos os sentidos contra a dengue. Elas são: Ação de saneamento ambiental (parceria com a Emurb para limpar ruas, retirar entulhos e desfazer poças d’água); Capacitação de recursos humanos (desde dezembro a Semsa capacitou toda a equipe de vigilância); Aplicação da legislação (a prefeitura estuda medidas normativas que facilitem a execução do plano); Integração com o atendimento básico (envolvimento de mais de 400 agentes de saúde para prevenção); Sustentação Política (desde que foi atualizado o plano tem mobilizado vários gestores públicos); e Acompanhamento e avaliação (os gestores sempre se reúnem para rediscutir o plano).
Prevenção e Controle do Vetor
Na parte de prevenção e controle do vetor, Pascal Khalil contou que a Secretaria está intensificando ações em 2 frentes. Uma compreende a mobilização social junto às comunidades dos bairros de Rio Branco, além do aumento de propagandas em todas as mídias acreanas. “Fizemos vários eventos de sensibilização, mutirões, visitas, dia D, arrastões, palestras, oficinas e até reuniões com diretores das escolas daqui. Com isso, nosso objetivo é mobilizar ao máximo a sociedade para os riscos da doença. Portanto, continuaremos firmes com atividades dessa natureza”, declarou.
Entre alguns dos trabalhos realizados, eles eliminam focos do mosquito nas casas
A outra frente diz respeito ao trabalho técnico de endemias, no sentido de contenção e enfrentamento à população do mosquito transmissor. Para realizar esta árdua tarefa, a Semsa conta no momento com 141 agentes de endemias exclusivos para a atuação contra a dengue. “No começo do mês, tínhamos 82 agentes e pretendíamos contratar mais efetivos até alcançar a marca dos 200. Infelizmente, isso não foi possível devido às reduzidas apresentações quando convocávamos os aprovados do Pró-Saúde. Apesar disso, a nossa expectativa é conseguir contratar nesta semana mais 50 ou 60 agentes e se aproximar desse ideal de 200 o mais breve possível”, explicou Pascal.
Conheça os principais focos da dengue
Não há dúvidas de que o verdadeiro ambiente em que o vírus da dengue se prolifera é o domiciliar. Segundo o Levantamento do Índice Rápido de Infestação do Aedes aegypti (LIRA) feito pela Semsa na semana retrasada, 10,4% do total das casas de Rio Branco abrigam criadouros com as larvas do vetor. Assustador, mas tem mais! Nos bairros Cidade Nova, Alzira Marcolino, Seis de Agosto, Seis de Agosto I e Quinze esse percentual chega a marca de 21,4% do total de residências.
“É por isso que a participação da comunidade é muito importante. A dengue só poderá ser vencida se as pessoas cuidarem pelo menos da sua própria casa”, enfatizou Pascal Khalil. Quer saber como fazer isso, o último LIRA também aponta o índice dos principais focos onde se encontram as larvas do mosquito:
57,6% dos criadouros de Rio Branco são achados em depósitos de água limpa (o vetor encontra resistência para se reproduzir em água suja) a nível do solo, expostos;
16,1% dos focos correspondem aos entulhos de lixos acumulados em quintais, como panelas e frigideiras velhas, latas e garrafas, restos de eletrodomésticos e de mobílias, faróis e outras peças quebradas de automóveis;
16,1% das larvas são encontradas em pequenos recipientes (vasos de plantas, baldes, bacias, cumbucas, pingadeiras, copos plásticos, garrafas de bebedouros, etc);
3,5% é o número aproximado dos focos que são achados em pneus velhos;
7% representam os demais criadouros descobertos em recipientes acumuladores de água que não estão presentes na superfície.