O Teatro dos Nauas lotou na noite desta quarta-feira, 04, durante a cerimônia de formatura do Programa Especial de Aceleração da Aprendizagem, para alunos de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental, que estão em situação de distorção idade/série. Conhecido como ‘Projeto Poronga’ o programa foi criado em 2002, numa parceria entre o Governo do Acre e a Fundação Roberto Marinho e chegou a Cruzeiro do Sul em 2007.
Esta foi a segunda turma formada no município: são 269 alunos que estudaram em dez turmas, em todas as escolas da rede estadual e agora estão aptos a ingressar no Ensino Médio. O índice de aprovação superou as expectativas e é comprova o compromisso dos alunos com o projeto: atingiu 99%.
Mães, pais, irmãos parentes e amigos prestigiaram os formandos, numa noite de variadas atrações feitas por grupos escolares e de muita emoção que explodiu em lágrimas, quando a representante dos alunos, Tamires dos Santos Soares, falou em nome dos colegas da alegria pela “primeira conquista”.
“O tão sonhado dia chegou”, disse ela emocionada. Segundo Tamires, durante o aprendizado “aprendemos o companheirismo, a trabalhar em equipe, o respeito pelas instituições, os direitos e deveres do cidadão, aprendemos a olhar de maneira diferente para a realidade, a acreditar em nosso potencial, o respeito ao legado cultural e o despertar
Diversidade cultural
A cerimônia começou com o Hino Acreano e Hino de Cruzeiro do Sul, ambos cantados pela repórter da TV Aldeia, Luciana Teixeira. Em seguida se apresentaram: Banda da Escola Absolom Moreira; apresentação de hip hop, por grupos das escolas Braz de Aguiar e Absolom Moreira; representação da música “Meu País”, por alunos do Braz de Aguiar; canção indígena Shawandawa, cantados pela aluna Nazaré Shawandawa, acompanhada do pai e da mãe; um vídeo dos professores em homenagem aos alunos e finalmente o Grupo de Dança Triplo X que encenou “A Vida dos Ribeirinhos”.
O coordenador de Educação da SEE em Cruzeiro do Sul, Amarizio Saraiva contou durante a cerimônia que quando o programa chegou a Cruzeiro do Sul, por ser um programa novo, causou estranheza, mas os resultados conseguidos mostraram que valeu a pena. E tem um sentido de continuidade: “Isto é o começo, é uma das etapas da vida; vocês vão longe ainda”, disse. Citando Paulo Freire, ‘Educar é um ato de amor’, Amarizio disse que não é fácil ser professor do Poronga, que por ter uma metodologia diferenciada exige que o professor esteja sempre ‘antenado’.
Para a professora de uma das turmas, Francisca Vilce Correia, o ensino regular é voltado mais para o conteúdo, enquanto o Poronga se volta mais para o aluno, para o desenvolvimento de suas habilidades. Para ela, que já tem 11 anos como educadora, o Poronga mostrou uma nova dinâmica pedagógica.
O índio Francisco Nogueira da Silva Shawandawa veio prestigiar a formatura da filha Maria de Nazaré e falou que se sentia muito orgulhoso. Francisco, a esposa e a filha, vestindo roupas tradicionais cantaram para o público presente uma canção de sua cultura, em seu próprio idioma, embelezando a cerimônia e dando um exemplo da riqueza cultural do Vale do Juruá.
A aluna Janeila Torres da Silva, 16 anos, contou que aos 12 anos perdeu a continuidade dos estudos, por ter ficado doente. Para ela o Poronga significou o resgate de sua escolaridade, permitindo-lhe entrar no Ensino Médio sem distorção idade/série. Ela também destacou a qualidade do ensino: “Aprendi muita coisa e também me atualizei”, disse.
A professora Marcleide Maria da Silva Pinheiro, uma das professoras do Poronga, falou pelas colegas: “Vestimos a camisa do projeto, pois ele pode resgatar dignidades”. Ela agradeceu o apoio pedagógico da Secretaria de Educação e a Fundação Roberto Marinho.
Participaram ainda da cerimônia as coordenadoras do Poronga: no Estado, Emili Areal e em Cruzeiro do Sul, Maria Fabiana Arruda e o secretário municipal de Educação Ivo Galvão. (Agência de Notícias do Acre)