Por Profª Victória Bacon
“Milhares de jovens estão concluindo o ensino sem ter aulas de matemática e física, porque há falta de 270 mil professores na rede. Isso é a conseqüência de 10 a 15 anos de verdadeiro descalabro na gestão do ensino público, do desmonte do Estado e do esvaziamento da Educação Pública”. Esta declaração feita em 2004 por Marcos Dantas da Secretaria de Educação a Distância MEC e acabou causando certa aflição na cúpula do MEC na época. Porém o governo como sempre empurrando com a barriga, depois de 6 anos da referida declaração chega a apitar alarme junto aos gestores da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.
A falta de professores graduados com formação específica nas áreas de exatas tem gerado situações esdrúxulas em escolas públicas por todo Brasil. Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) mostrou, por exemplo, que na rede estadual, há professores de química cuja formação superior não tem absolutamente nenhuma ligação com a disciplina, como história, letras, filosofia e até violino.
Segundo o estudo, apenas 14% dos professores de química são formados na área. Dados do Ministério da Educação mostram que a situação é pior ainda em física: 9% com formação específica. Em matemática, apenas 27% dos docentes são graduados na área. Em pleno século XXI, com bilhões e bilhões de investimentos na educação superior como nunca se viu antes, a situação tende a piorar cada vez mais. O novo plano de educação lançado em meados de 2009, tende a qualificar em nível de licenciatura a distância mais de 20 mil professores nestas áreas de conhecimento, mas esta não é a saída viável e lógica para resolução de uma problemática que tende a se alastrar. O que o governo federal através do MEC quer é preencher um vazio com ar. Não sou contra a educação a distância. Ao contrário, sou tutora da UAB/UNB/UNIR desde 2009. Mas tratando especificamente de disciplinas de natureza tecnológica (matemática, física e química) o governo deveria incentivar através de políticas públicas sólidas atraindo o alunado do ensino médio a cursarem tias cursos. È cada vez maior o desinteresse por parte dos jovens em cursarem exatas nas universidades. Em 1995, por exemplo, a média de concorrência nas universidades federais para o curso de licenciatura em física, por exemplo, eram de até 7 candidatos por vaga. Hoje, a realidade é triste e alarmante. Não se chega a 2,8 candidatos por vaga e, em algumas universidades o número de vestibulandos inscritos é menor que o número de vagas ofertadas.
A seleção do SISU/MEC (o exame que vem substituindo o vestibular pelo ENEM), mostra esta realidade. Sobram milhares de vagas em cursos de exatas. Há universidades que reservaram 50% de suas vagas para o curso de matemática, por exemplo, e não preencheu sequer 10%, como é o caso da UFVJM
A resposta para este alarme de falta de professores na área de exatas se justifica por quatro fatores:
O primeiro é a difícil missão de se concluir a graduação em um curso de exatas em nível de licenciatura. Os cursos de física, química e/ou matemática, os professores das universidades possuem pouca didática e se prendem apenas a cursos de extensão e pesquisa. Os mestres e doutores não querem preparar os seus discentes para a missão do magistério. È uma tarefa árdua preparar um discente a transmitir conhecimentos de lógica, interpretação e cálculo para os alunos da educação básica. A maioria perde o gosto pelo ensino durante o curso. Muitos acabam se bacharelando e partem para outro ramo que não seja a educação. A outra parcela, a minoria, aventura-se na carreira massacrante do magistério.
O segundo fator se explica, pela falta de investimentos e qualificação dos professores que atuam nestas disciplinas. Só para se ter uma idéia, a maior evasão de professores dos quadros efetivos da educação básica encontra-se, percentualmente, entre os professores de exatas. A cada 100 professores que pedem exoneração de seus cargos junto às secretarias de educação dos estados, 76 são de exatas. Se analisarmos pelo ponto de vista lógico e racional, existem 15 disciplinas no currículo da educação básica (tanto as disciplinas do núcleo comum quanto as diversificadas). Então, concluiremos que em apenas 3 disciplinas (física, química e matemática) que respondem por 20% do currículo escolar de educação básica, a evasão chega a 76%, gravíssima e preocupante estatística.
O terceiro fator são as novas oportunidades geradas pelo próprio Poder Público. A maioria destes professores acaba partindo para outras esferas da administração pública. Concursos públicos atraentes que remuneram até 10 vezes a mais o que ganha um professor é a explicação mais viável para este dado alarmante. Os professores de exatas tem um potencial a mais em relação a outros candidatos. Estes, diariamente utilizam o raciocínio lógico, interpretativo e mecânico para soluções de problemas. Isto lhes causam uma vantagem na hora de prestarem um concurso. São capazes de resolver questões de outras áreas como direito, administração e até língua portuguesa pelo fato de constantemente trabalhar o Q;I em maior escala. Os maiores gênios da humanidade foram ligados ao universo dos números e da lógica como, por exemplo, Einstein, Pitágoras e Joule.
Mas, a situação crítica gerada com a falta de professores de exatas na educação básica brasileira, vai além do processo de aprendizagem do alunado brasileiro. O Brasil cresce economicamente como nunca se viu antes. O pais vai demandar muitos cientistas e tecnólogos, afim de prevalecer uma possível autonomia em relação aos países desenvolvidos tecnologicamente. O cenário que se constrói deste Brasil auto-suficiente na visão que o presidente Lula, tanto se orgulha quando está falando as contra-gotas nas paródias interlocutais (seminários, congressos e visitas internacionais) não é bem assim;.O presidente garante que a expansão de cursos técnicos, antigo CEFET, pelo Brasil do Monte Caburai até os limites do Arroio Chuí e da Ponta do Seixas até o escondido limite
Serra da Ccontamana no extremo oeste brasileiro garantirá um avanço nunca se visto no cenário tecnológico brasileiro. Mas será que isto resolverá o problema da formação tecnológica do espaço brasileiro? Evidentemente que sim no ponto de vista parcial e a longo prazo. Mas se observarmos o modelo que se implantou nos últimos anos na China, por exemplo, os frutos são colhidos com sucesso em um país que já é auto-suficiente em vários segmentos da robótica e tecnologia. Lá o investimento em formação tecnológica e cientifica se dá pela valorização do profissional com docência em exatas de maneira especial. O governo criou uma espécie de centros de estudos avançados para captar cérebros, afim de que mergulhem nos cálculos e na lógica comparativa e sejam transmissores de conhecimentos as novas gerações do país de Mao. A RPC (República Popular da China) colhe estes frutos iniciado no governo de Deng Xiaoping há mais de 20 anos. Os professores de exatas recebem um diferencial de salário que chega a 2000 dólares (um dos mais altos do país). No Brasil o escandaloso piso de 470 dólares pago a um professor e a média de um profissional que atua nas disciplinas de exatas chega ao ridículo 489 dólares para um dia todo de trabalho.
Mas é preciso repensar o valor destes professores. O que o governo está fazendo é adiar um problema já construído e talvez que custará o crescimento do Brasil em todas suas vertentes. Nossas futuras gerações poderão pagar um preço muito alto pela falta de investimento público em professores qualificados para atuarem nas escolas de educação básica nas disciplinas de exatas. Por fim, uma bola de neve negativa que cresce sem controle e sem preocupação dos gestores públicos. Um Brasil, certamente que perderá espaço em conhecimento científico precisando sugar em outras culturas sua afirmação.
Profª Victória Ângelo Bacon, Porto Velho-Rondônia