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A bula do papa corta o mundo em duas bandas

Há fatos curiosos na história da ocupação humana pelo mundo e uma delas trago, em breves palavras, no texto de hoje: a bula do papa corta o mundo em dois lados para a conquista portuguesa e espanhola. Como isso aconteceu?

Aconteceu que o sucesso da viagem de Cristóvão Colombo, ao novo mundo, em 1492, trouxe preocupação aos portugueses.  E, naquele tempo, o papa Alexandre VI era tido como o dispensador dos bens terrestres por delegação divina. Então, nesse particular, atendendo pedido da coroa portuguesa, no ano de 1493, ele promulgou uma bula dividindo o mundo entre Castela e Portugal: a leste de uma linha de demarcação, que ia de um pólo a outro e passava a cem léguas ao largo dos Açores, os territórios descobertos seriam possessões de Portugal; a oeste desta linha, pertenciam a Castela.

No entanto, se o mundo ficasse assim dividido, hoje, certamente, não falaríamos o português. Aconteceu que em 1494 Portugal e Castela, dois poderosos reinos, negociaram a aplicação da bula do papa, ao assinarem o Tratado de Tordesilhas. Com ele a linha de demarcação foi deslocada para oeste, de 35 para 50 graus de longitude oeste, e passaria no interior do território que Pedro Alves Cabral aportou em 1500. Isso leva a crer que o descobrimento não foi fruto do acaso, porquanto os portugueses já conheciam a localização do Brasil.

O fato é que o rei João II de Portugal teve interesse em manter segredo sobre a localização do Brasil, em razão das negociações com os Reis Católicos sobre o Tratado de Tordesilhas, no qual renunciava à dominação de uma parte do Extremo Oriente contra a expansão de sua influência no Atlântico. Abria mão de uma parte do mundo, não por generosidade, mas movido pela ambição de ganhar, nessa nova partilha, uma porção de terra espetacular: o Brasil.
O fato de o mundo partido em dois, como o fez o Tratado de Tordesilhas, possibilitou a colonização portuguesa no Brasil e, conseqüentemente, a implantação da língua portuguesa na terra cabralina.

Em princípio, a língua portuguesa foi falada pelos colonizadores que precisaram aprender o tupi, principal língua da nova terra. Depois, vieram os Jesuítas com as escolas cria-das pela Companhia de Jesus. Todavia, o fato de maior relevo, para consolidar a língua camoniana na América, foi à instalação, no Brasil, da família real, com toda a Corte, tangidos pela ameaça de Napoleão Bonaparte invadir Portugal. Este fato, por si só, fez a diferença entre a colonização portuguesa no Brasil e nas outras partes do mundo.

Foi assim que o Brasil – descoberto em 1500 – começa a ter vida urbana tardiamente, em 1808. E essa urbanidade brasileira não foi planejada, foi forçada em decorrência da chegada da Corte Portuguesa no Brasil. Essa nobreza fugidia deu novo impulso à terra de Santa Cruz.

E, assim, com o mundo cortado em dois, ficou o Brasil à mercê da colonização portuguesa e, mais tarde, com o “auxílio” de Napoleão Bonaparte, o Brasil ganhou vida urbana, mesmo com o atraso de 308 anos. E foi essa urbanidade que fez a diferença entre o Brasil e outras colônias portuguesas. A ela se deve, sem dúvida alguma, o movimento alcançado na Independência. A partir de então, a responsabilidade por esta terra pertence à República e a cada brasileiro que sonha com um país livre.

DICAS DE GRAMÁTICA

ELE FOI MULTADO PORQUE INFLINGIU A LEI DE TRÂNSITO ou PORQUE INFRINGIU A LEI DE TRÂNSITO, PROFESSORA?
– Infringir significa transgredir, violar, desrespeitar. Logo o que ele fez foi “infringir a lei do trânsito”. Então, se o motorista fez isso, infringiu a lei do trânsito, o guarda pode aplicar a multa, ou seja, infligir a multa ao motorista.

POSSO DIZER QUE SOU SUPERIOR DO QUE ELA?
– Nem brincando com ela! Prefira dizer a assim:
  Sou superior a ela, e não inferior a ninguém.
  Este produto é superior ao nosso, mas inferior ao deles.
– Superior e inferior também não aceitam mais e menos: mais superior, menos inferior.

E a expressão “O JOGADOR CUSTA QUASE MAIS DE UM MILHÃO DE DÓLARES”, como fica professora?
– Olha, fica assim: acabamos deduzindo que o preço do atleta dever ser mesmo um milhão de dólares, considerando que o “quase” e o “mais” se anulam. Desse modo, seria mais simples ao jornalista dizer: o jogador custa um milhão de dólares. Vai ver que essa é mais uma das causas do fracasso do futebol brasileiro dos últimos tempos…

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense – UFF; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Professora Visitante Nacional Sênior – CAPES. colunaletras@yahoo.com.br

 

 

 

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