Tanta gente indaga se é verdade que saudade é palavra que só existe em Língua Portuguesa? A verdade é que ela aflige o coração de tantas pessoas, pelo que carrega de significação. Mas possui etimologia incerta. Suas formas arcaicas são “suidade, soedade e soidade”, na fase do galego-português. Teria vindo, talvez, de “soledade”, solidão. Também existe a hipótese de vir de “salutate”, uma saudação bastante usada nas despedidas das cartas romanas. Até a influência de “saúde” já foi aventada. A dificuldade de explicar a mudança fonética fez João Ribeiro (grande estudioso da Língua Portuguesa) opinar que saudade tem origem no árabe “saudá”, significando profunda tristeza. Outra possível hipótese, presumidamente fantasiosa, é ser derivada de “Ceudda”, forma berbere de dizer Ceuta, fortaleza distante onde os soldados passavam longos tempos ausentes da terra natal.
De fato, essa palavra carrega mistérios, encantos, nostalgia. Talvez por essa multiplicidade significativa, essa indefinição que envolve o sentido que transposta, sobre ela há tantas definições: Sentimento mais ou menos melancólico de ausência, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo; nostalgia ou afastamento de um lugar, pessoa ou coisa; ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados, por alguns, como bens desejáveis; lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta; pesar pela ausência de alguém importante em nossa vida. Como sinônimos ela tem duas palavras: Lembrança e Nostalgia.
Para os gramáticos consultados, saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe na língua portuguesa. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), J’ai regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão). No inglês há variadas tentativas para dizê-la:: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país); longing e to miss (sentir falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância). Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o sentimento das pessoas que falam o português. São, apenas, tentativas de determinar um sentimento que nós mesmos não sabemos, com exatidão, como defini-lo. Não é apenas um obstáculo ou uma incompatibilidade da linguagem. É, principalmente, uma característica cultural daqueles que falam o idioma de Camões.
Independente da origem etimoló-gica, o fato é que essa palavra mora na alma brasileira. Saudade não tem cor, mas pode ter cheiro. Não podemos ver nem tocar, mas sabemos o quanto é grande. Pode ser o sentimento que alimenta um relacionamento amoroso ou apenas o que sobra dele. Pode ser uma ausência suave ou um tipo de solidão. Pode ser uma recordação daquele momento e daquela pessoa, que um dia, mesmo sabendo ser impossível, ousamos querer reviver e rever. É a dor de quem encontrou e nunca mais se encontrará, de quem sentiu e nunca mais voltará a sentir. Assim, a saudade se combina com outros sentimentos e procria-se. A soma da saudade com a solidão é igual à Dor. O resultado da saudade com a Esperança é a Motivação.
Saudade é uma só, em diferentes palavras. É comum encontrá-la grafada nas lápides, em alusão a dor da ausência provocada pela morte. Mas na Literatura e na Música é um tema crônico. É quem arquiteta a estrofe e conduz o tom. Não importa o gênero literário ou o estilo musical, não importa o autor, a época ou a situação. Saudade é presença do ausente, é lembrança do bem-querer, um doce convívio com a distância, uma alegre e agradável tristeza do ver-não-vendo, do amar sem o objeto do amor. Saudade é saudade, um sentimento que somente o povo luso-brasileiro conhece.
Saudade é um registro fiel do passado. É a prova incontestável de tudo que se viveu e ficou impresso na alma. Ao confessarmos uma saudade, na verdade, estamos nos vangloriando de que, ao menos uma vez na vida, conhecemos pessoas e vivemos situações que foram boas, e serão eternas em nossa alma. Nutri-la, é alimentar o espírito e a própria existência de lembranças boas. Saudade é um sentimento misterioso, algo que não se conhece, mas se descobre. Às vezes sangra o coração, mas também traz esperança e alegria.
Assim, se há tantas e, ao mesmo tempo, tão imprecisas definições de saudade resta-nos, apenas, cultivá-la e alimentá-la com pensamentos, músicas, perfumes, fotografias, lugares, fins de tarde e madrugadas. Que saibamos viver plenamente o presente, pois ele será a saudosa lembrança do amanhã. Pois a vida vai tecendo laços e tudo que tece são pedaços do vir-a-ser, que se transforma em ser. Assim, a saudade aportou no Brasil com a colonização e, sendo o Recife um dos primeiros, senão o primeiro porto a ser tocado na rota, ela aqui chegou e fez sua morada. Hoje habita cada coração dessa gente brasileira/portuguesa.
DICAS DE GRAMÁTICA
ESTE e ESSE, QUANDO USÁ-LOS?
– Aprende-se cedo a empregar essas palavrinhas. As regras primárias baseiam-se no posicionamento do objeto em relação à pessoa que fala e àquela que escuta. Se uma camisa, por exemplo, está perto da pessoa que está falando, usam-se esta: “ Esta camisa que visto é muito bonita.” Agora, se o objeto estiver próximo a quem está ouvindo, é correto empregar essa. “Gostei muito dessa camisa que você está segurando”. A mesma regra vale para ISTO e ISSO.
QUAL A PRONÚNCIA CORRETA DE EXTRA?
– Extra é uma abreviação da palavra extraordinário, cuja vogal pronuncia-se fechada: EXTRA (Ê). Pluraliza-se normalmente: edições extras, os extras, etc.
Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES.