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Fantasmas nas florestas acreanas

A Gazeta do Acre por A Gazeta do Acre
17/04/2012 - 04:00
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* Muitas plantas nas florestas acreanas ainda não perceberam que seus predadores ou dispersores desapareceram há milhares de anos. Na ausência desses, essas plantas representam verdadeiros fósseis vivos, inutilmente aguardando a chegada de fantasmas.

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Quando caminhamos pelos varadouros e estradas de seringa das florestas acreanas não percebemos, mas numerosos fantasmas nos espreitam. Se observarmos bem, esses fantasmas se materializam na forma de características incomuns de algumas plantas e pela ocorrência de certos frutos que não conseguimos explicar à luz dos seus atuais possíveis predadores ou dispersores.

O exemplo mais representativo dessa situação são os espinhos da palmeira conhecida popularmente como murmuru (Astrocaryum ulei), que podem atingir até 50 cm de comprimento.
Quem já viu uma dessas palmeiras e parou para observar seus espinhos avantajados certamente deve ter se perguntado:

– Para que servem estes espinhos? Contra que tipo de animal esta palmeira irá usá-los?

O murmuru faz parte de um grupo que compreende 16 espécies de palmeiras muito similares morfo-logicamente, todas com espinhos avantajados, das quais 10 estão amplamente distribuídas no oeste da Amazônia, especialmente no Acre, sul do Amazonas e Peru.

A maior parte dessa região era até 10 mil anos atrás um extenso cerrado habitado por abundante e diversa megafauna terrestre representada pelas preguiças gigantes, mastodontes, gliptodontes e toxodontes, todos animais com mais de 1 tonelada de peso. Na atualidade, o maior herbívoro existente nesta região é a anta (Tapirus terrestris), que mal passa de 1 m de altura e pesa no máximo 250 kg.utra planta contemporânea, a coité-de-macaco ou cuieira-da-mata (Couroupita guianensis), uma árvore de grande porte da mesma família da castanha do Brasil que pode atingir até 45 m de altura, possui frutos com até 24 cm de diâmetro. Os nossos seringueiros também são castanheiros, mas não colhem o coité-de-macaco, colhem apenas a castanha. Os frutos da castanha tem como dispersor e predador a cutia (Dasyprocta spp.), que abre o ouriço extremamente duro, come algumas sementes e enterra as outras. As sementes esquecidas pelas cotias mais tarde irão germinar, garantindo a perpetuação da espécie. Para o coité-de-macaco restam apenas os fantasmas. Falta a cutia da Couropita.

Mais um exemplo é o cocão (Attalea tessmannii), uma palmeira de grande porte que pode atingir mais de 20 m de altura e que se parece muito com a palmeira jaci (Attalea butyraceae). Aparentemente, a fauna atual não comporta um dispersor dos frutos do cocão, os maiores dentre todos os frutos de palmeiras nativas do Acre. Por isso, os frutos da espécie quando amadurecem e caem no solo, apodrecem, são consumidos pela larva do bicho-do-coco ou são triturados e comidos pelos queixadas (Tayassu tacaju), perdendo a capacidade de germinar. Os bandos de queixadas não são dispersores, são predadores. O desaparecimento do dispersor primitivo do cocão talvez explique a sua atual distribuição natural, restrita ao vale do Rio Juruá, no Acre, e regiões adjacentes do outro lado da fronteira, no Peru.

Podemos citar também o coité, conhecida pelos cientistas como Crescentia cujete. O fruto do coité, depois de seco e serrado em duas partes, é usado como cuia, recipiente, ou mesmo prato, especialmente para saborear o tacacá. O coité é uma espécie originária da América do Sul ou América Central, e foi domesticado há muito tempo, não se sabendo com certeza aonde. Mesmo assim é importante notar que não se encontra na atualidade um animal que se interesse pelo alimento fornecido pelo enorme fruto do coité. Muito menos se entende porque uma árvore que mal passa dos 10 m de altura precisa gastar tanta energia para produzir dezenas de frutos que muitas vezes medem mais de 40 cm de diâmetro. Um mistério a ser resolvido pela identificação dos fantasmas.

O murmuru, a coité-de-macaco, o cocão e o coité são exemplos de anacronismos. Essas plantas não estão em sincronia com os seus dispersores. São plantas adaptadas para animais extintos ou fantasmas. As plantas continuam agindo como se esses animais ainda estivessem presentes no ambiente. É uma memória genética que, passados mais de 10 mil anos, ainda não se apagou.

A pré-história e a história contemporânea são latentes no Acre pela existência de plantas anacrônicas e fósseis da megafauna extinta. Provavelmente muitas plantas das florestas acreanas ainda não perceberam que seus predadores ou dispersores desapareceram. E na ausência da megafauna, essas plantas representam verdadeiros fósseis vivos, inutilmente aguardando a chegada de fantasmas.
No Laboratório de Paleontologia da Ufac, pode-se averiguar a antiga presença desses fantasmas, pelos ossos fósseis de seus crânios, mandíbulas e dentes.

O paleontólogo é o profissional que consegue dar vida a animais extintos. A união dos saberes dos paleontólogos com a de outros especialistas poderá auxiliar no entendimento da biologia de algumas plantas do Acre, que representam verdadeiros enigmas de sobrevivência.

Alceu Ranzi – Paleontólogo associado ao Instituto Histórico e Geográfico do Acre
Evandro Ferreira – Engenheiro Agrônomo e pesquisador do Inpa/Parque Zoobotânico da Ufac.
Para saber mais:
Barlow, C. 2000. The Ghost of Evolution, Basic Books, New York.
Kahn, F. & B. Millán. 1992. Astrocaryum (Palmae) in Amazonia. A preliminary treatment. Bull. Inst. fr. etud. Andines 21: 459-531.
Ranzi, A. 2000. Paleoecologia da Amazônia. UFSC/Ufac – Florianópolis/Rio Branco.

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