Em 2012, no ano em que se comemoram os 35 anos da descoberta dos Geoglifos do Acre, um projeto de Arqueologia Comunitária, aprovado no edital da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), é o primeiro passo concreto em direção a sua preservação
O meio acadêmico acreano e a comunidade da zona rural de Senador Guiomard receberam com empolgação a notícia da aprovação do projeto de Arqueologia Comunitária de Musealização do Geoglifo Tequinho, no edital da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB). Após 35 anos da descoberta dos geoglifos do Acre e de e de muitos estudos realizados por cientistas brasileiros e estrangeiros, de diversas instituições de pesquisa, esse é o primeiro passo concreto para a preservação de um geoglifo localizado no Estado do Acre.
Assunto que vem despertando o interesse tanto da comunidade científica internacional quanto dos maiores veículos de comunicação do mundo, a exemplo do Jornal The New York Times*, os geoglifos são vestígios arqueológicos representados por desenhos geométricos de grandes dimensões elaborados sobre o solo, sendo que no Acre já foram registrados quase 300 dessas estruturas.
O projeto aprovado no edital da SAB, que tem como focos principais o estudo do espaço através de escavações e a sua preparação para a visitação pública (musealização) será desenvolvido com o auxílio dos moradores da Vila Pia, em Senador Guiomard, envolvendo alunos e professores das escolas locais, utilizando estratégias de arqueologia comunitária, contribuindo assim para a preservação e difusão do importante patrimônio arqueológico no estado do Acre.
Sensibilização é o Caminho para a Preservação
Apesar da grande divulgação que tais sítios alcançaram na mídia e da preocupação do governo do Acre e de governos municipais com sua situação, quatro geoglifos foram parcialmente destruídos nos últimos anos por ação de proprietários e por atividades de assentamento. Embora o Ministério Público Federal tenha recomendado ao IPHAN o tombamento dos sítios, acreditando que essa é a medida necessária à sua preservação, e da tramitação na Unesco de um pedido para que os sítios sejam reconhecidos como patrimônio da humanidade, poucos são os avanços práticos nesse sentido.
“Entendemos que a preservação desse patrimônio importante do estado do Acre, que se situa em áreas já degradadas e sob ameaça de degradação só será possível se a população estiver sensibilizada e atuante no sentido de preservá-los”, acredita Denise Schaan.
Estão previstos, ainda, na execução do projeto, a gravação de um documentário e a produção de um livro sobre as histórias da comunidade que convive com os imensos geoglifos desde o surgimento do vilarejo e os “causos” que permeiam o imaginário popular, escrito pelos próprios moradores, sob a orientação do grupo de cientistas. Após a sua edição, os livros e DVDs serão distribuídos para as escolas da Rede Pública Estadual, visando a divulgação da arqueologia do Acre e a sensibilização de crianças e jovens para as questões que envolvem o patrimônio arqueológico, histórico e cultural local.
As primeiras atividades realizadas pelo grupo responsável pela execução do projeto, sob a coordenação da arqueóloga Dra. Denise Schaan, proponente do projeto e também coordenadora do Projeto Geoglifos da Amazônia Ocidental, foram realizadas nos dias 12 e 13. O grupo formado por pesquisadores e doutores da Universidade Federal do Pará e professores da Escola Rural Capitão Edgar Cerqueira Filho visitou o Geoglifo Tequinho e participou de uma reunião na escola para falar sobre o projeto aprovado, conhecer a comunidade escolar e preparar o cronograma de atividades em conjunto com a direção da escola.
Porque o Geoglifo Tequinho?
Considerado pelos arqueólogos um sítio arqueológico complexo, formado por dois quadrados circundados por fossos (valas) triplos com muretas de saída laterais, o geoglifo Tequinho fica situado a cerca de 500m da BR-317, num ramal da Vila Pia, comunidade localizada na zona rural do município de Senador Guiomard. Dois pontos favoráveis são a sua localização, a somente 70 km de Rio Branco por estrada asfaltada, e o entusiasmado apoio do proprietário do sítio, Raimundo Gonzaga da Silva, mais conhecido como Seu Tequinho, que quer vê-lo preservado. O curioso é que este vilarejo é cortado ao meio pela estrada que dá acesso ao município de Boca do Acre, onde de um lado da BR-317 as terras pertencem ao município de Senador Guiomard, e do outro lado ao município de Porto Acre. Isso significa dizer que o local poderá atrair a visita tanto de acreanos quanto de amazonenses.
(*) Veja a recente matéria veiculada pelo jornal The New York Times, em janeiro deste ano: http://www.nytimes.com/2012/01/15/world/americas/land-carvings-attest-to-amazons-lost-world.html?_r=4&;emc=eta1&pagewanted=all)
Mais informações: www.geoglifos.com.br