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Abuso sexual infantil – uma guerra sem tréguas

De acordo com os pesquisadores o abuso sexual infantil é um problema de saúde pública, devido à elevada incidência epidemiológica e aos sérios prejuízos para o desenvolvimento das vítimas. Mas, eu vou além. Na minha avaliação, as consequências negativas dessa prática não se limitam às crianças vitimadas, mas afetam toda a sociedade.

Os registros da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República dão conta de 225 crianças abusadas no Brasil por dia. Apenas violações registradas. Estima-se que as vítimas silenciosas sejam mais que o dobro dessa cifra.

Ora, se como afirmam os psicólogos o abuso traz sérias consequências para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima com mudanças de comportamento da criança, incluindo conduta hipersexualizada, fugas do lar, diminuição no rendimento escolar, uso de drogas, conduta delinquente e predisposição ao desenvolvimento de psicopatologias, me pergunto que tipo de sociedade estamos formando.

Quando olhamos para o passado, temos um exemplo clássico no imperador de Roma, Calígula que entrou para a história como um dos mais cruéis déspotas do mundo. O homem que proclamou-se um deus e nomeou seu cavalo cônsul, chegou ao trono segundo alguns historiadores, após matar Tibério, seu avô, que o havia molestado sexualmente na infância. Pesquisadores questionam até que ponto o abuso sexual foi responsável pelos desvios desse personagem tristemente famoso.

Não temos espaço para novos Calígulas. Mas se quisermos mudar a história, é necessário agilizarmos a reação, porque os estudos comprovam que os abusadores replicam a conduta da qual foram vítimas.
Apesar da complexidade e da quantidade de variáveis, podemos prever que se esta regra se confirmar em 100% dos casos, em dez anos teremos 3.500 abusadores agindo no Estado do Acre, aí contabilizados apenas os referentes a um ano, uma vez que os registros da Secretaria Nacional de Direitos Humanos apontam para 352 abusos em um ano no Estado, quase um por dia. Em números reais teremos muitos mais se não combatermos essa prática.

Proteger nossas crianças portanto é proteger a sociedade como um todo. E nesse caso o melhor remédio chama-se prevenção. Consciente disso há nove anos faço a distribuição da Cartilha de Combate à Exploração Sexual com palestras nas escolas tanto na Capital como nos municípios do interior do Estado.

Tenho importantes parceiros nessa empreitada e quero aproveitar a passagem do Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes para agradecer ao Ministério Público Estadual, nas pessoas do  promotor da Vara da Infância, Almir Branco e do procurador Carlos Roberto da Silva Maia; aos conselheiros do Conselho Tutelar da Infância e Adolescência e à atriz global Brenda Haddad, que em muitos desses momentos me acompanhou; às Secretarias Estadual e Municipais de Educação e aos diretores das escolas, entre tantos outros para dizer que cada vez que alertamos uma criança e impedimos que um abuso sexual se concretize, estamos salvando uma vida e auxiliando para a criação de uma sociedade melhor.

Aproveito ainda a passagem da data para conclamar todas as pessoas a se unirem a nós nessa cruzada para mudar essa realidade cruel que aponta que uma em cada quatro meninas e um em cada 10 meninos é vítima de violência sexual antes de completar a maioridade.

A caminhada é difícil? É. Mas, como diz o conhecido provérbio chinês, uma caminhada de mil léguas começa com o primeiro passo, e o caminho a nossa frente, aguarda por nós.

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