Passam fome os 280 haitianos que estão abrigados na cidade de Brasilézia, distante 233 quilômetros da Capital, Rio Branco. A casa onde estão alojados está com o aluguel atrasado seis meses e o Governo do Acre, que custeia as despesas, não tem mais condições de manter a estrutura de apoio.
Há um mês, a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Acre teve que tomar uma medida drástica: cortou o fornecimento de comida. A empresa contratada deixou de receber o pagamento há quatro meses. Uma dívida de R$ 50 mil.
Em um ano e dez meses, o Governo do Acre calcula gastos de R$ 2,5 milhões. E o pior é que a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos não vislumbra um cenário otimista para resolução do problema.
“Só há um ministério que tem verba destinada a esta situação”, afirma o secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Nílson Mourão, se referindo ao Ministério do Desenvolvimento Social. O MDS tem verba destinada às populações em situação de vulnerabilidade em regiões de fronteira. O Governo do Acre assegura que já tentou acessar essa verba.
“Eu não tenho mais orçamento para custear essa ajuda”, confessou o secretário Nílson Mourão. Na segunda-feira, foram cortados os fornecimentos de água e de energia elétrica da casa onde está alojado o grupo. Sem energia, a noite, a situação é dramática.
O problema se agrava porque há cerca de 15 haitianas grávidas em Brasiléia. Entre estas, cinco estão prestes a ter o bebê. “Eu estou pedindo doa-ções das empresas que vêm buscar trabalhadores aqui”, afirmou o representante da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Damião Borges. “O problema é que essas empresas são ligadas à construção civil e não querem mulheres”.
E não param de chegar haitianos. “Eu articulo a saída de 30 e chegam mais 40”, contabiliza Borges. “O trabalho da Polícia Federal na emissão de CPF’s está ágil, mas mantê-los aqui é que está insustentável”.
Alguns poucos professores da Universidade Federal do Acre mantém trabalho voluntário de apoio aos haitianos. “Se não houver uma intervenção rápida, algo grave pode vir a acontecer”, afirmou o professor do departamento de Ciências da Natureza da Ufac, Foster Brown.
“É um problema de ordem social. Em breve, um grupo grande de haitianos pode estar nas ruas sem abrigo e sem comida”, relatou Brown. O proprietário da residência já solicitou a devolução do imóvel devido aos seis meses de atraso.