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Prostituição infantil: o papel da mídia

O tema da prostituição infantil e, por extensão, a prática da pedofilia é abrangente e, exigiria muito fôlego do autor destas poucas linhas, na concepção de um artigo que visualizasse o caráter universal do problema. Deste modo, preferimos de forma fragmentária, enfocar a postura da mídia que continua, responsavelmente, denunciando estruturas perversas, fatos escabrosos e anomalias sociais, mesmo que seja estigmatizada como imprensa marrom, pois se percebe um comportamento social de apatia e alienação diante de situações graves, como essa de Pedofilia.

A notícia, amplamente divulgada através dos meios de comunicação, da prisão de alguns figurões da socie-dade acreana, acusados de exploração sexual de menores, é triste e lamentável, mas precisava vir a público. Como saberíamos se não através da mídia, que se eleva cada vez mais o número de adolescentes grávidas. Além do que, o Brasil é o campeão mundial de abortos. No passado, somente duas décadas atrás, antes da informação instantânea ou globalizada, pouco se sabia a respeito da prática de abuso e exploração sexuais infringidas contra crianças e adolescentes. Só recentemente os noticiários têm sido mais pródigos acerca deste grave problema que deixa profundas seqüelas na vida de milhares de crianças.

É preciso que se diga que a divulgação, em larga escala pela imprensa mundial, de casos de abusos sexuais contra crianças, por exemplo, no seio da igreja dita cristã, notadamente na igreja católica, tem mobilizado os cristãos do mundo inteiro, para ações preventivas em igrejas e congregações locais.

A Igreja Católica, que por motivos desconhecidos fechou os olhos, ao longo dos anos para casos de abusos sexuais contra crianças, envolvendo seus líderes, hoje deflagra, constrangida pela mídia mundial, uma verdadeira guerra contra os que praticam tal anomalia. Os motivos de tal combate são óbvios, pois as pesquisas revelam que 90% dos católicos consideram que a imagem da igreja foi abalada por causa dos escândalos de assédio e manipulação emocional e sexual de crianças, protagonizados por falsos guias espirituais, infiltrados no coração da igreja. Esses escândalos, segundo os meios de comunicação de diversos países, atingem, além do Brasil, o mundo inteiro. Só a Igreja Católica de Boston (EUA), sofreu 450 processos impetrados por advogados de supostas vítimas de abusos sexuais por parte de padres. 

E, o que é pior, os altos escalões da arquidiocese, incluindo seu responsável, o cardeal Bernard Law, tinha conhecimento de alguns casos de abusos de crianças cometidos por padres da cidade e não tomou medidas para impedir que continuassem em contato com crianças. A propósito, o cardeal Bernard Law, em função do escarcéu, á época, entrou com pedido de renuncia do posto de arcebispo de Boston, no que foi prontamente atendido pelo falecido Papa João Paulo II.

Uns e outros escândalos no seio da Igreja Católica, divulgados fartamente pela mídia, obrigou o Vaticano, constrangido pelas circunstâncias, a tomar medidas rígidas, na presente década, para punir padres católicos responsáveis por abusos sexuais contra crianças. Em texto, recente, que enviou as agências internacionais, o Vaticano considera a pedofilia como uma “ofensa abominável”. A nota diz ainda que a partir dessa medida, a igreja deve reconquistar o respeito dos católicos, cuja confiança ficou abalada pela onda de escândalos sexuais.

Com essa postura o Vaticano tenta minimizar a pressão que o mundo, via mídia, exerce atualmente sobre o Papa Bento XVI e paralelamente começa a destronar a grei dos pedófilos contumazes, enrustidos nos bastidores da igreja.

A medida, mesmo enérgica e necessária, é paliativa, já que vivemos num mundo onde a maioria dos problemas mais difíceis tem múltiplas causas e exige múltiplas soluções, e esse é, sem dúvida, o caso da prática da pedofilia. Contudo, posições como essa do Vaticano anima e conforta os genuínos cristãos dos quadrantes da terra. Alento que dá a todos nós cristãos pro-fessos, um fio de esperança, para suportar, hoje, um mundo que vive numa escala nunca antes conhecida na História, de brutalidade, ganância, bestialidade e instinto criminoso, provavelmente oriundo dos próprios demônios que imperam nos lugares eminentes da terra.

Então, é sim papel da mídia divulgar e denunciar abusos sexuais contra crianças e adolescentes. Essa é, também, a opinião de representantes de vários segmentos da sociedade. Um dia desses li a seguinte assertiva de alguém ligado aos meios de comunicação: “Denunciar estruturas sociais perversas que possibilitam e encobrem situações nocivas à so-ciedade, é também o papel da mídia”.

Mesmo porque, como mencionamos acima, se percebe um comportamento social de apatia e alienação diante de situações graves, como essa de prostituição infantil. É claro que esta apatia e alienação social, muitas vezes decorrem da banda podre dos meios de comunicação, principalmente a TV e, presentemente, de forma avultada pelas facilidades da internet. A realidade angustia, contudo é necessário conhecê-la para entendê-la, na tentativa de agir nas causas e não somente nas conseqüências dos distúrbios sociais.

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