O chamamento, em outdoors, para uma mobilização geral com o objetivo de sanear e revitalizar o Rio Judia deve ou deveria sensibilizar a sociedade em geral, especialmente aquela parte da sociedade que joga papel, copos des-cartáveis, latinhas de cervejas vazias, dejetos de cães, gatos e outros bichos na via pública, e depois fica cobrando do governo municipal, uma cidade mais limpa.
Trafego diariamente sobre uma ponte que ostenta uma plaqueta: ponte sobre o Rio Judia. Contudo, em nenhum momento de minha estada em Rio Branco, tive a curiosidade de parar o veículo no acostamento e ter algum contato com este esteiro. Mas, essa atitude, sem leviandade, deve ser a da maioria da gente que por alí passa. Estamos todos assoberbados em demasia, para dedicar tempo a algo que objetivamente não tem atrativos. Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Essa é a nossa realidade, nua e crua. É o lado sombrio da nossa relação com os nossos rios e igarapés. Simplesmente, não ligamos. E mais: É inócuo esse discurso de caráter universal de preservar a floresta e os rios da Amazônia, quando estamos deixando morrer os igarapés “urbanos” vizinhos nossos, nascente de qualidade de vida.
Caso o projeto vá além da propaganda ao ar livre, consiga sair do papel quebra-se por aqui aquela velha práxis, conjunto de práticas, de maus governantes do Norte do Brasil, com algumas exceções, para não falar de outras regiões carentes, que permitiram que os nossos igarapés, fonte de boa qualidade de vida que fluíam as principais capitais, numa beleza ímpar, fossem contaminados por toda sorte de sujidade oriundos dos mais diferentes segmentos da sociedade. Incluem-se ai os moradores de palafitas, erguidas em longo dos igarapés assim como a maioria dos conjuntos de classe média que despejam seus dejetos fisiológicos nos esteiros, contribuindo para a ex-crescência do problema. Nesse caso, a revitalização do Rio Judia é de vital importância para uma melhor condição de vida.
Rio Branco é inegável tem suas sequelas, bem conhecidas de todos que aqui vivem e labutam. Não dá para deixar de ver a agonia dos que vivem em cafuas na periferia da cidade. Temos deficiências estruturais de proporções consideráveis, agravadas pela negligência dos não poucos pseudos cidadãos. Então, não adianta chorar, uma vez que o índice apontando que mais de 50% dos brasileiros não tem saneamento básico é, além de preocupante, alarmante. Também de nada adianta culpar este ou aquele governo ou governante, o problema surge em função de uma alta demanda ou déficit habitacional que é agravada por uma imoral especulação imobiliária que assola o país. Aqui mesmo emnossa Capital a toda hora espocam novos bairros seja via invasão ou através de loteamentos, muitos destes ilegais e sem o menor planejamento. Sendo assim, não se pode falar em qualidade de vida sem que se resolvam questões cruciais, de difícil solução, como é o caso da ocupação ilegal por habitações populares.
Em função desta situação calamitosa vejo com satisfação a iniciativa, por quem de direito, de sanear e revitalizar o igarape Judia. Tal empreendimento trará, com certeza, melhor qualidade de vida para os que vivem nas adjacências. Resgatará uma grande dívida da sociedade com aquele esteiro, fruto da bondade da natureza; alegrará os corações dos mais antigos, que no passado na condição de moleques travessos, no bom sentido, se compraziam nas águas límpidas e prazerosas do citado rio ou igarapé.
A minha satisfação consiste, especialmente porque remete o meu pensamento para dias príscos, quando os nossos igarapés alguns até denominados de balneários serviam de lazer e entretenimento aos cidadãos comuns. Lembro, com saudosismo mesmo, os bons igarapés de Manaus, cidade onde fui criado e vivi por longos anos aí pelas décadas de 60 e 70. Cito, entre outros: O igarapé da ponte da Bolívia; da ponte dos Franceses e; de maneira especial o igarapé do Parque 10 de novembro. Velhos tempos, belos dias!
Entendo, que a providência de preservar e alongar a vida do Rio Judia, além de reparadora, é corajosa, pois são poucos os governantes, estadual ou municipal, que se lançam na árdua tarefa de programar a recuperação de rios e igarapés, dando aos bairros próximos, notadamente os emergentes e periféricos, as condições higiênicas, habitáveis e respiráveis. É audaz, sobretudo porque não dá votos!
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