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Médica alerta para a prevenção do câncer de cabeça e pescoço

Coordenadora regional da SBCCP no Acre, Ana Carvalho, faz alertas sobre a doença. (Foto: Arquivo pessoal)

“Após três cirurgias para retirada das minhas cordas vocais, por conta do câncer, minha intenção é mostrar para as pessoas que essa doença é silenciosa e agressiva. Quanto antes encontrar o diagnóstico, mais chances a pessoa tem de ter êxito no tratamento. Eu sou um sobrevivente”, destacou o funcionário federal, Tião Figueiredo, que em 2007 descobriu ter câncer de laringe.

Durante todo o mês de julho, a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) desenvolveu a Campanha Nacional denominada “Julho Verde”.

Mesmo passado o período de programações que ocorreram em todo o país sobre o assunto, a prevenção e o diagnóstico rápido são fundamentais para vencer a luta contra o câncer. O câncer de cabeça e pescoço atingiu 32 mil pessoas no Brasil em 2014. No mundo, cerca de 650 mil novos casos surgem todos os anos. No Brasil, 32 mil foram diagnosticadas com algum desses tipos de câncer em 2014, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

De acordo com a coordenadora regional da SBCCP no Acre e especialista no tema, Ana Carvalho, a associação no consumo de cigarro e álcool multiplica em até 20 vezes a possibilidade de uma pessoa saudável desenvolver algum tipo de câncer de cabeça e pescoço, que afetam diretamente as funções de fala, deglutição, respiração, paladar e olfato.

De acordo com o levantamento do Inca, o câncer de boca, laringe e demais sítios é hoje o segundo mais frequente entre os homens, atrás somente do câncer de próstata, com mais de 18 mil casos diagnosticados anualmente no Brasil. Nas mulheres, prepondera o câncer da tireoide, sendo o quinto mais comum entre elas.

“Uma pessoa que apresente uma ferida na boca, um caroço no pescoço ou rouquidão que persistam por mais de três semanas, deve procurar o cirurgião de cabeça e pescoço, principalmente aqueles que tenham o hábito de fumar e consumir bebidas alcoólicas”, explicou a médica.

Mas, também existem outros fatores, como o refluxo gastroesofágico, que é um fator de risco para o câncer de laringe.

De acordo com Tião Figueiredo, em 2010 foi realizada a última cirurgia dele e, desde então, realiza exames periódicos. “Devo a minha sobrevivência aos médicos que fizeram o diagnóstico correto e imediatamente o tratamento. Alguns exames custaram caro, fiz fora do Estado, mas valeu à pena. Hoje, posso dividir minha história com as pessoas e, através da minha experiência, alertar todos sobre a gravidade da doença que podia ter me matado”, destacou o funcionário público que hoje se comunica por meio de uma prótese instalada na laringe que permite a reprodução de sua voz.

Ana Carvalho alerta que quanto mais rapidamente for diagnosticado, maior a chance de cura. “Os tumores pequenos e localizados apresentam taxa de cura superior a 90%, enquanto os de grandes dimensões podem levar à morte pela doença. Os estudos mais recentes apontam para alguma influência genética no desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço, porém, o hábito de fumar e beber ainda são os principais fatores de risco para a doença e devem ser firmemente combatidos”.

Quando diagnosticado, o câncer de laringe pode ser tratado com a associação de quimioterapia e, em último caso, a cirurgia, confirma a médica.

Uma vez retirada a laringe, é possível que a pessoa volte a falar, afirma Ana Carvalho. “Existem muitas maneiras de se voltar a falar, com o uso de próteses ou o desenvolvimento de outra forma de voz. O fonoaudiólogo é quem irá auxiliar na reabilitação desse paciente”.

A médica alerta para a atenção que se deve ter com os sinais que podem indicar a existência de câncer de cabeça e pescoço. Segundo ela, 80% dos casos são diagnosticados quando o câncer já está em estágio avançado. “O que dificulta muito o tratamento e até mesmo a cura da doença”.

Tardio, o diagnóstico nessa região impacta diretamente na qualidade de vida dos pacientes, uma vez que o tratamento se torna muito sacrificante para a pessoa.

Um estudo, que acaba de ser divulgado, mostra que duplicou o número de câncer oral no mundo, em pessoas com idade entre 30 e 44 anos. A pesquisa foi realizada pela médica epidemiologista Maria Paula Curado e apresentada dias atrás no 5º Congresso da Academia Internacional de Câncer Oral, em São Paulo.

Tião Figueiredo descobriu que tinha câncer de laringe em 2007: “Eu sou um sobrevivente”. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Um caroço no pescoço pode ser câncer?
A coordenadora regional da SBCCP no Acre, Ana Carvalho, explica que todo nódulo persistente no pescoço pode ser câncer. “Em geral, há suspeita da doença quando os nódulos não desaparecem espontaneamente em até 21 dias, quando são endurecidos e crescem rápido e progressivamente”.

Ana Carvalho destaca que a primeira avaliação de um nódulo cervical pode ser realizada pelo médico clínico que, habitualmente, acompanha o paciente. “É ele que irá ponderar sobre a necessidade do paciente procurar um cirurgião de cabeça e pescoço”, confirmou.

O diagnóstico de câncer começa com o exame do pescoço realizado pelo médico clínico e pelo cirurgião de cabeça e pescoço. Para cada caso, podem ser necessários exames complementares, como a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a biópsia, por exemplo.

De acordo com a médica, a cirurgia é ainda a principal forma de tratar o câncer de boca. O tumor deve ser retirado e também os linfonodos do pescoço. “Alguns pacientes podem ainda necessitar de radioterapia ou até quimioterapia após a cirurgia, mas essas modalidades, em geral, não são a primeira escolha de tratamento”.

A maioria das pessoas que desenvolvem câncer na boca são aquelas que fumam ou abusam do álcool, porém, há casos, em menor proporção, de pessoas que nunca fumaram ou nunca beberam e que podem desenvolver a doença. Estudos apontam para outros fatores de risco nessa população, como a falta de higiene oral, próteses dentárias e a infecção oral pelo papilomavírus (HPV), explicou a médica.

Há uma grande diversidade de modalidades de cirurgia no tratamento do câncer de laringe, o que envolve desde a retirada de pequenas lesões por dentro da boca, nos casos iniciais, até mesmo a retirada de toda a laringe nos casos mais avançados. Portanto, as alterações na qualidade de vida são variáveis. Entretanto, é possível ter uma vida normal ou bastante próxima disso após o tratamento, confirma Ana Carvalho.

 O que causa o câncer de tireoide?
A maior parte dos cânceres de tireoide tem uma origem desconhecida. Entretanto já se sabe que a inflamação crônica da glândula (tireoidite), que pode ser causada pela ingestão excessiva de iodo, a exposição à radiação e histórico familiar de câncer de tireoide são fatores de risco conhecidos e bem estudados, apontou a médica.

O câncer de tireoide é uma doença maligna como qualquer outro tipo de câncer, todavia, a chance de cura, na maioria dos casos, é muito mais alta (superior a 95%). O tratamento deve ser instituído o quanto antes, ou seja, assim que houver o seu diagnóstico ou a sua suspeita.

Em geral, a cirurgia de retirada da tireoide (tireoidectomia)  apresenta baixas taxas de complicações e não há risco de ficar sem voz. Mas, como os nervos responsáveis pela movimentação das cordas vocais estão atrás da tireoide, podem ficar “inchados” e até este “inchaço” regredir, existe a possibilidade de algum tipo de mudança na voz.

A principal arma no tratamento do câncer de tireoide é a retirada da glândula (tireoidectomia). E é um tratamento bastante efetivo.

Depois da operação, é necessário tomar hormônios
De acordo com Ana Carvalho, após a retirada de toda a tireoide, há a necessidade de se tomar o hormônio tireoidiano diariamente. Ao contrário do que popularmente se acredita, a cirurgia não leva a pessoa a engordar ou a ter alterações no seu dia a dia, desde que se faça o uso adequado da medicação e o controle hormonal periódico.

O câncer de tireoide, por ser uma doença maligna, pode voltar no pescoço ou em outros órgãos, apesar de ser uma condição que acontece na menor parte dos pacientes. Por esse motivo, é importante o acompanhamento periódico por muitos anos.

Como prevenir
Alimentação balanceada, rica em verduras e frutas, exercícios físicos, não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas e manter a higiene bucal são maneiras de prevenir câncer de cabeça e pescoço.

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