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Como nasceram as escolas latinas

A gente sempre fica a se perguntar como e onde surgiram as primeiras escolas latinas e em quais modelos ou princípios teóricos elas estavam apoiadas. O texto de hoje caminha na direção de mostrar como surgiram e o percurso delas no curso da história. As primeiras escolas latinas são, inteiramente, na sua origem, de inspiração grega, pois se limitavam à imitação das escolas gregas, tanto no que concerne aos programas como aos métodos de ensino. No correr do tempo, os romanos vão, pouco a pouco, organizando-as em três graus distintos e sucessivos: a instrução primária; o ensino secundário e o ensino superior. Esses graus correspondem três tipos de escolas, confiadas a três tipos de Mestres especializados.

Escolas primárias – surgiram entre os séculos II e III a.c., provavelmente remontando ao período etrusco da Roma dos Reis. A iniciação da criança, nas escolas primárias, ficava a cargo de um preceptor particular (em especial nas famílias aristocráticas), e por volta dos sete anos ela é confiada a um Mestre Primário – o litterator, “aquele que ensina as letras”, também designado por primus magister, magister ludi, magister ludi literarii, ou, como viria a ser designado no século IV a.c., o institutor. O primus magister é, em Roma, mal remunerado e pouco conceituado na hierarquia social. As aulas eram ministradas ao ar livre, em local isolado de barulhos e curiosidades da rua, por meio de um tabique – o velum. As crianças agrupavam-se em torno do Mestre que ministrava aulas de sua cadeira – a cathedra – colocada sobre um estrado. O mestre era assistido por um ajudante, o hypodidascales. A jornada escolar da criança tinha início muito cedo e durava até ao pôr-do-sol. As aulas eram suspensas durante as festas religiosas, nas férias de verão (finais de Julho a meados de Outubro) e também durante as nundinae que semanalmente se repetiam no mercado

Escolas secundárias – sugiram por volta do século III a.C., com relativo atraso, isso pela ausência de uma literatura romana propriamente dita (na Grécia o modelo de escola se baseava na explicação das obras de grandes poetas como Homero, dentre outros). Em Roma, é somente no tempo de Augusto (século I a.c.) que o ensino secundário latino assume a sua forma definitiva, rivalizando em valor educativo com o grego. Um romano culto seria doravante aquele que conhecesse a obra de Virgílio, da mesma forma que um grego conhecesse e recitasse, na íntegra, os versos de Homero. O ensino secundário era menos difundido que a instrução primária. A maioria das crianças, de fraca condição social, abandonava a escola no final da Instrução Primária, passando então a freqüentar a casa de um Mestre de ensino técnico, por exemplo de Geometria, que os prepararia para o exercício de profissões como a carpintaria. As restantes crianças iniciam por volta dos doze anos de idade um segundo ciclo de estudos, com a duração de três anos. Nesse estudo há a intervenção do grammaticus, correspondente latino do grammatikus grego, que ensinava Gramática e Retórica. Existiam portanto duas Instituições paralelas: uma para o estudo da língua e da literatura grega, a outra para o estudo da língua e literatura romana.

Escolas superiores – a igreja foi responsável, na Idade Média, pelo surgimento das escolas superiores, com base na lição que Cristo ensinou aos apóstolos: “Ide e ensinais”. Na Antiguidade nunca houve universidades, nem educação para todos. A primeira escola superior data de 93 a.C. (século I) por L. Plócio Galo e, pouco tempo depois, encerrada, em virtude do temor que o “novo espírito” suscitava na aristocracia romana. Esse ensino superior ou ensino retórico era destinado aos jovens que estavam por volta dos quinze anos de idade, ocasião em que eles recebiam a toga viril, sinônimo da entrada na vida adulta. Os jovens recebiam essa formação superior até atingir os vinte anos de idade. Depois, poderiam continuar ou não. Os estudos tinham por finalidade formar oradores, já que a carreira política representava o ideal supremo. Foi assim que Roma transformou-se num centro excepcional de estudos para os Mestres de Retórica. No século II surgem os representantes da segunda sofística, os quais cultivam um discurso preciosamente elaborado, bem como a improvisação, perante uma vasta audiência de romanos.

Vêem-se, então, como as escolas latinas nasceram na Idade Média, tempo em que tudo aquilo relativo ao saber era reverenciado. “A deshonneur meurt à bon droit qui n’aime livre” – quem não ama os livros morre na desonra. O ensino da época foi orientado pelo espírito cristão e teórico de três grandes homens: Marco Fábio Quintiliano, Lúcio Annaaeus Sêneca e Marco Túlio Cícero. Quintiliano ficou conhecido como advogado e professor de eloquência, tendo-se tornado o primeiro professor pago pelo Estado, no Império de Vespasiano. Ensinou Eloquência durante duas décadas e teve alunos famosos como Plínio o Moço e o próprio Imperador Adriano. Após deixar o ensino, Quintiliano redige o De Institutione Oratoria, verdadeiro tratado de educação intelectual e moral; Lúcio Annaaeus Sêneca é representante da cultura dos primeiros anos do império. Foi exilado na Córsega, por Cláudio, e chamado a Roma, em 49, por Agripina, tornando-se, preceptor de Nero, que mais tarde, não podendo resistir às censuras do filósofo, ordenou a sua morte; Marco Túlio Cícero foi o melhor representante do ensino humanista, uma espécie de educação de caráter universal, humanística, supernacional. O seu ideal educativo tem um sentido cosmopolita, universal, que perdura no sonho da atualidade.

DICAS DE GRAMÁTICA
FAZEM CINCO ANOS ou FAZ CINCO ANOS?
– Fazer, quando exprime tempo, é impessoal. Então, diga: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.

HÁ DEZ ANOS ATRÁS ou HÁ DEZ ANOS?
– Há e atrás indicam passado na frase. Então, diga: Há dez anos ou Dez anos atrás.

VIVE ÀS CUSTAS DO PAI ou VIVE À CUSTA DO PAI?
– O certo é Vive à custa do pai. Use também em via de, e não “em vias de”: Espécie em via de extinção./ Trabalho em via de conclusão.

NÃO SABIAM AONDE ELE ESTAVA ou NÃO SABIAM ONDE ELE ESTAVA?
– O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. Aonde vamos?

O STE NÃO INTERVIU NO CASO ou O STE INTERVEIO NO CASO?
– Intervir conjuga-se como vir. Assim: O STE não interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc.

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.

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