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VALORIZAÇÃO DA VIDA: SE FAZ SENTIR, FAZ SENTIDO !

Queridos leitores e leitoras do Jornal “A Gazeta”, Paz e Bem ! Você já ouviu falar de suicídio, não é? O suicídio é talvez a forma mais trágica de alguém terminar a vida. Estamos mesmo em um momento tão conturbado na cidade de Rio Branco que inúmeros casos têm despertado nossa atenção, por vezes tristeza, sentimentos vários e muitos, muitos julgamentos e culpabilizações.

Segundo publicação do Conselho Federal de Psicologia, o ato suicida é uma manifestação humana, uma forma de lidar com o sofrimento, uma saída para livrar-se da dor de existir e muitas vezes se constitui numa possibilidade que o sujeito pode dispor quando a vida lhe parecer insuportável.

Mas não é sobre isso que queremos hoje falar, ao menos não por este aspecto. O grande convite é para falarmos de VALORIZAÇÃO DA VIDA. Em um contexto de dor, desesperança e sofrimento sempre deve e pode ressoar em nosso coração o forte e suave convite em estabelecer nossa vida para além da physis (do que é biológico, sensível, natural).

Na busca por tornar-se humano, o homem e a mulher nos diversos períodos da história, nas diferentes culturas e religiões sempre questionaram o sentido existencial da vida. Não por acaso, no período antropológico da filosofia ocidental, Sócrates levava seus discípulos ao que chamava de parto de ideias e afirmava o famoso “Conhece-te a ti mesmo”.

O caminho da interioridade pode possibilitar à pessoa humana tomar contato com sua própria realidade, suas potencialidades e capacidades, e também com aspectos que precisam ser cuidados. Santo Agostinho, logo após abandonar o pensamento maniqueísta que polarizava tudo entre a luta do bem e mal, nos legou grande ensinamento deste caminho interior. Dizia Agostinho de Hipona, “Não vás fora, não procures fora. No interior do homem habita a verdade”.

Mas o que fazer quando tomamos contato com nossas limitações? Como reagir diante de altas frustrações? Como ressignificar eventos traumáticos? Como lidar com histórias de violência, sofrimento e abandono? Estas e tantas perguntas certamente povoam nossa mente e nossos corações. Sem dúvida, dado à multidimensionalidade humana, é necessário conhecermos quais são nossos fatores de risco e quais nossos fatores de proteção.

A espiritualidade é sem dúvida um elemento salutar, pois dá a pessoa, a comunidade e a sociedade a possibilidade de ser religar (de onde vem religio, religião) com sua vocação transcendental. Jesus no Evangelho de João (16,8), já advertia seus discípulos para a necessidade de buscar formas de lidar com os conflitos e contrariedades: “No mundo encontrareis tribulações, mas tende coragem. Eu venci o mundo”. A fé cristã, a partir do olhar da misericórdia, convida a todos a termos plena confiança no incondicional amor de Deus, que não julga, condena, ou se satisfaz sadicamente da dor humana.

Valorizar a vida é cerca-se de cuidado, afeto, solidariedade. Em nossos grupos sociais podemos – e devemos todos – desenvolver uma sensibilidade que não trate com indiferença (ou pior, como besteira, “frescura”, falta do que fazer) pessoas que dão indícios de sofrimento psíquico. É necessário aproximar-se sem condenações, sem usar o divino para machucar mais, evitando apresentar à pessoa com ideação suicida uma possibilidade de vida ficcional que na prática não se realiza e respeitando sua individualidade.

Podemos – e devemos todos – ajudar na acolhida para que eventuais pulsões de morte possam dar lugar ao reaparecimento do sujeito que pode, inclusive, expressar seu sofrimento (pois faz parte da condição humana) de outras maneiras. Valorizar a vida pressupõe, ainda, descobrir meios de reocupar os lugares vazios da existência com novos sonhos, projetos e presenças. Recorrer a profissionais especializados para a realização de escuta e intervenção qualificada é importante, seja como prevenção, tratamento e posvenção.

Nosso mundo contemporâneo muito tem a aprender com Francisco de Assis. Ele que não cedeu aos apelos de seu tempo, mas por meio de um caminho interior fez uma revolução, a revolução da ternura, a revolução da acolhida. Seguindo seu exemplo, sendo mais sensíveis com as pessoas à nossa volta, mais cuidadosos com a criação, mais amantes do gênero humano poderemos fazer acontecer – entre nós -, o sonho de Jesus que “Todos tenham vida. E vida em abundância (Jo 10,10)” Não basta apenas ter vida, ela tem que ser plena, abundante e valorizada. Paz e Bem!

Interino do Frei Paulo Roberto – OFM Cap.

Fábio Fabrício Silva – Vice-coordenador do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS. Encontro todo 4º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 07:00 horas. E Bruna Oliveira (Psicóloga do Ministério Público do Estado do Acre)

 

A Gazeta do Acre: