A chegada da variante Delta ao Brasil e sua consequente iminência no Acre tem deixado as autoridades em alerta. Mas enquanto os olhos do mundo estão voltados para a mutação indiana, uma outra mutação, a Lambda chama a atenção nos países andinos e acende a luz amarela para o Acre.
Até o momento, o Estado não tem nenhum registro de casos das variantes Delta ou Lambda, mas embora esta última não seja considerada uma cepa preocupante pela Organização Mundial da Saúde, o aumento de casos da mutação nos países vizinhos requer atenção, pois o Acre possui 17 municípios que fazem fronteira com Peru e Bolívia, onde os casos da variante têm aumentado consideravelmente devido à sua elevada capacidade de transmissão, se comparado à versão clássica do coronavírus.
Detectada ainda em 2020 no Peru, a variante Lambda já foi identificada em pelo menos 29 países, incluindo Estados Unidos, e continua se espalhando pela América do Sul. No Peru, ela é apontada como responsável por mais de 90% dos novos casos de Covid-19 e a Bolívia, por sua vez, teme um novo surto de Covid-19 impulsionado pela alta capacidade de transmissão da variante.
Carol Parente, técnica do Programa Nacional de Imunizações e secretária Executiva do Comitê de Investigação de Eventos Adversos Pós-Vacinação (EAPV) contra a Covid-19, declarou que o governo do Estado está atento e pretende realizar na próxima semana uma caravana de vacinação nos municípios de fronteira, além de criar bloqueios sanitários nas zonas fronteiriças para garantir a segurança da população.
“Iniciamos por Rio Branco [a caravana de vacinação], devido ao grande fluxo de passagem de pessoas, alcançamos mais de 3.500 pessoas com a primeira dose da Pfizer e agora, o foco é ir para os municípios de fronteira. Então na próxima semana, vamos para o Alto Acre e a ideia é fazer também, pelo menos, Capixaba e Plácido de Castro. O principal foco neste momento é iniciarmos pelas fronteiras onde temos maior malha viária, ou seja, com acesso mais fácil e a gente sabe como é mais complexo”, declarou Parente.
O médico infectologista Eduardo Farias, reforça que as vacinas disponíveis hoje são eficazes também contra as novas cepas do vírus da Covid-19.
“As vacinas – até onde a gente conhece – protegem contra todas as variantes, inclusive a Delta, a P1 [Gama], todas elas tem proteção, nenhuma mutação escapa da vacina. A Delta ou a andina [Lambda] têm o mesmo comportamento [por serem] mais infectantes e, se elas entrarem no Brasil através do Acre, podem causar um novo surto, até porque ainda estamos com cobertura baixa de vacinas com segunda dose, mas graças a Deus estamos com casos bem baixos”, explicou Farias.
Até o momento, o Estado aplicou quase meio milhão de vacinas contra a Covid-19, no entanto, destas, apenas 121.743 correspondem a pessoas que completaram o esquema vacinal ou tomaram o imunizante de dose única. As informações constam o Portal de Monitoramento do Ministério da Saúde e apontam que a população vacinável no Acre – ou seja, a partir de 18 anos – é de 581.615.
Para Eduardo Farias, a diminuição do tempo entre a primeira e segunda doses, é crucial neste momento em que a população está exposta a novas variantes.
“Eu sou favorável encurtar o tempo entre a primeira e segunda doses, porque quando você distancia a primeira e segunda dose da Astrazeneca, ou da Pfizer, você tem aí um acréscimo de efetividade em até 10%, porém você deixar uma pessoa 45 dias a mais exposta a um vírus que está circulando, não sei se é interessante, ainda mais com essas variantes”, questionou Farias.
Entenda o que são variantes de preocupação ou interesse
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuiu nomenclaturas simples, fáceis de pronunciar e lembrar para as principais variantes do SARS-CoV-2, o vírus causador da COVID-19, utilizando letras do alfabeto grego.
Todos os vírus, incluindo o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, mudam com o tempo e com muita frequência. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum impacto nas propriedades do vírus. No entanto, algumas alterações podem afetá-las, como a facilidade com que ele se espalha, a gravidade da doença associada ou, até mesmo, o desempenho das vacinas, medicamentos terapêuticos, ferramentas de diagnóstico e outras importantes medidas de saúde pública e sociais.
Uma variante do SARS-CoV-2 que atende à definição de uma Variantes de Preocupação e, por meio de uma avaliação comparativa, demonstrou estar associada a uma ou mais das seguintes alterações em um grau de significância para a saúde pública global:
- Aumento da transmissibilidade ou alteração prejudicial na epidemiologia da COVID-19;
- Aumento da virulência ou mudança na apresentação clínica da doença; ou Diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde pública ou diagnósticos, vacinas e terapias disponíveis.
Já a Variante de Interesse é considerada como uma variante de interesse se, em comparação com a variante original, seu genoma contiver mutações que mudem o fenótipo do vírus e se:
- Tiver sido identificada como causadora de transmissão comunitária, de múltiplos casos ou de clusters (agrupamentos de casos) de COVID-19 ou tiver sido detectada em vários países;
- Ser de outra forma avaliada como uma VOI pela OMS em consulta com o Grupo de Trabalho de Evolução do Vírus SARS-CoV-2.
Fonte: OMS
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