A obesidade infantil é um problema global e, assim como outras condições, também se agravou durante a pandemia de Covid-19. Nesta quinta-feira, 28, a nutricionista materno-infantil Liana Merched concedeu entrevista à Rádio Gazeta 93 FM para falar sobre este problema, assim como a seletividade alimentar.
Aos jornalistas Brenna Amâncio e Tiago Martinello, Merched destacou que o número de casos de crianças obesas tem crescido no Acre. De acordo com a nutricionista, atualmente, uma em cada três crianças está com obesidade e, durante o período de pandemia, as crianças ganharam, em média, 10 quilos, desenvolvendo problemas de saúde que antes eram mais comuns em pessoas adultas, como esteatose hepática (gordura no fígado), diabetes, entre outras doenças.
Atendendo com frequência crianças entre 7 e 8 anos, Liana Merched destacou que é preciso que haja uma mudança em todo o ambiente familiar para mudar esta condição.
“A família precisam mudar os hábitos em casa para a criança também mudar, não adianta passar um plano [alimentar] para a criança. A família tem que cumprir. [Os principais vilões são] aumento do [consumo de] industrializados, que as crianças estão consumido bastante em casa, e o excesso de carboidratos. Os principais são as massas, pães, bolacha, muito arroz, tudo de muito, porém eles não gastam essa energia, ficam em casa sedentários”, explica Merched.
A profissional destaca também que, com as crianças, não dá pra ser radical, mas é importante dosar quantidades e diminuir o consumo destes alimentos na rotina, para que uma mudança radical não seja fator gerador de problemas emocionais no futuro. Além disso, a nutricionista destaca que “não existe comida lixo”, mas sim alimentos industrializados que não tem nenhuma fonte de fibras ou vitaminas, nada para fornecer a criança, por isso, é importante que a família esteja atenta ao que é consumido em casa.
Ela também destacou a importância de incluir atividades físicas na rotina familiar e aproveitou a oportunidade para orientar os pais sobre mudanças simples, mas que podem fazer total diferença no contexto alimentar.
Sobre a dificuldade e a seletividade alimentar, outros temas, por vezes, pouco abordados, mas que também geram muita ansiedade nas famílias, a nutricionista explica que a seletividade é caracterizada quando a criança ainda consome mais que 30 alimentos. Em geral, ela começa de uma recusa alimentar, pouco apetite, até chegar ao desinteresse pelo alimento, que é normal. Quando a família, entretanto, não sabe lidar com essa recusa desde o início, por motivos diversos, a criança pode acabar substituindo os alimentos saudáveis por alimentos que são chamados de “hiperpalatáveis” (alimentos com excesso de açúcar, corantes, sódio, carboidratos, etc., que o tornam mais saboroso, porém menos nutritivos) e aí é preciso ser feito todo um trabalho em consultório, uma terapia alimentar, direcionada para cada caso.
O alimento hiperpalatável, explica a nutricionista, “vicia” o paladar, fazendo com que a criança recuse outros alimentos não tão intensos no sabor. “Muitas vezes, o quadro de seletividade alimentar começa com a introdução desses alimentos”, explica Liana.
Já a dificuldade alimentar é algo mais complexo, uma seletividade extrema, quando há a aceitação restrita ou com pouca variedade de alimentos (menos de 20), e demanda mais tempo para ser tratado.