Bacharel em Letras por formação, jornalista por vocação, comunicadora por paixão, a apresentadora Jocely Abreu, ou simplesmente “Jô”, como é mais conhecida pelo público e pelos colegas de profissão, é a convidada da série “Gente do Acre, desta semana.
Acreana do “pé rachado”, Jô abriu o coração e o arquivo de memórias para compartilhar sua trajetória, do início da profissão, aos 16 anos, à ascensão na carreira de comunicadora; os desafios da conciliação do meio analógico com os digitais e a adaptação às redes sociais. Respeitada pela profissional multimídia que sempre foi, ou no bom acreanês, “virada”, indiscutivelmente batalhadora, não foi à toa que ela se tornou uma das mais conhecidas profissionais do seu meio.
Jô se descreve como uma apaixonada pela notícia, que já fez de tudo um pouco, que aceita desafios e que fez da disposição para aprender uma de suas principais ferramentas para o sucesso. Porém, se diz tímida para estar em frente às câmeras, quando ela é a entrevistada. “É estranho estar aqui do outro lado”, revela.
Do sonho de estar numa bancada de jornal até se tornar empreendedora e dona de sua própria agência, produtora e de seu próprio programa, o “Programa da Jô”, ela conta ao site A Gazeta do Acre o que teve que fazer para vencer na vida e na carreira. “Nada surgiu do nada, tudo é fruto de muito trabalho e tenho orgulho da minha trajetória”, diz.
Perguntada sobre sua relação com o Acre, Jô é enfática: “amo o Acre, tenho uma paixão enlouquecedora pelo Acre e gosto de contar as histórias do Acre e das pessoas do Acre”, respondeu, acrescentando que não tem vontade de deixar o Estado onde nasceu, constituiu família e lhe deu tudo que conquistou.
Casada com o radialista William Crespo, com quem tem uma filha, sua única filha, Maria Valentina, de 7 anos, Jô é a única filha mulher de uma prole de dois irmãos. Aos 46 anos de idade e 30 de carreira, Jocely se autodescreve: “uma pessoa que realiza muito, uma pessoa de muita fé, uma pessoa que não é de desistir. Cumpro com a minha missão, e a minha missão é a missão de comunicar como profissional e, como ser humano, tenho aprendido muito a ter paciência, a ser mais humilde e que as coisas podem ser melhores todos os dias”.
O começo
“Comecei muito cedo, com 16 anos, e tudo foi muito surpreendente na minha vida. Eu sonhava em ser jornalista e, naquela época, não tinha faculdade. Eu via ícones, como Eliane Sinhasique, Juarez de Cesaris, Clélio Rabelo, Gleice de Rezende e tantos outros que me inspiraram, e eu dizia: um dia eu vou estar ali, e um dia, realmente, eu estava sendo colega de trabalho dessas figuras tão apaixonantes e talentosas.”, diz.
Do sonho à realidade, Jô relata que tudo foi muito rápido. “Eu tive uma pessoa especial, naquele momento da minha vida, quando tudo começou… Ele já partiu, o Wilson Barros. Ele apresentava um programa de rádio, e eu era ouvinte. Lançou uma promoção, e eu ganhei. E ele tinha também um programa na TV Manchete, onde ele lançou outra promoção, e também ganhei a participação, e daí surgiu o convite pra começar como repórter dele. A partir daí, as coisas foram acontecendo e, a cada experiência, tinha mais certeza de que queria ser jornalista. Eu treinava muito na frente do espelho”, lembra.
A bancada
Antes de ser a apresentadora titular do telejornal Gazeta em Manchete, Jô fez outros trabalhos. “Primeiro, fazia uma edição de esporte, que foi interrompida para apresentar a edição de um informativo do Sindicato dos Bancários, que era bem polêmico, porque os sindicatos eram bem atuantes, e eu cheguei até a ser ameaçada de morte. As pessoas batiam na porta da TV, querendo falar com a apresentadora. Mas, foi nesse programa que as pessoas começaram a me perceber, inclusive o dono da emissora, o empresário Roberto Moura, que me convidou para apresentar o programa de esporte. Logo depois, comecei a apresentar a edição de sábado do jornal, no lugar da apresentadora, que teve que ir embora do Acre”, conta.
Jocely Abreu também fez reportagens e teve seu texto reprovado, várias vezes, pelo editor. “Depois de um tempo, fui ser repórter de rua, porque a edição de sábado parou de ser exibida e fiquei um bom tempo na reportagem, na sub editoria de Clélio Rabelo. Ele era muito exigente, e dizia que meu texto estava muito ruim, e eu tinha que fazer de novo, a passagem nunca estava legal, mas a gente sempre lembra dos professores que exigiram muito da gente, e ele foi um. Depois de ficar um bom tempo como repórter, a Gleice de Rezende, que era a titular, teve um problema e teve que se afastar. O Roberto Moura se viu comigo na frente dele e disse: vai ser você”, relembra.
Entre erros e acertos, Jô disse que pensou em desistir, mas a predestinação foi mais forte. “Tive que fazer um jornal ao vivo, e eu errei muito, diz ela que, à época, era acostumada com edições gravadas. Saí arrasada da TV nessa primeira vez, tanto que nem queria mais ser jornalista, mas, no outro dia, voltei à redação para a reportagem e, novamente, Roberto Moura me disse que eu apresentaria o jornal. Ele disse ‘vai ter que ser você’, e eu fui por muitos anos. Dividi a bancada com Eliane Sinhasique, Alan Rick e outros como âncoras, muitos anos”, acrescenta.
Uma pessoa de desafios
Apesar da opinião contrária de muitas pessoas, Jô diz que quanto mais desafiada, mais é motivada. “Se alguém diz que não sou capaz de fazer alguma coisa, eu faço para provar que sou. Muitas pessoas disseram que eu não tinha biotipo, aparência, o jeito, o perfil de ser apresentadora de uma telejornal, e aquilo ficou na minha cabeça por um bom tempo, mas provei que eu tenho”, assevera.
Profissional multimídia
Sem medo de aprender, Jocely abreu relata que fez da disposição para isso uma das principais ferramentas para consolidar-se na carreira e no mercado de trabalho. “Fiz de tudo um pouco. Me aventurei no rádio, como colunista… Não me dê desafios, que eu vou lá e faço. Eu aprendi a fazer tudo, filmar, editar.. tudo que me pediam, eu fazia.”
Do telejornalismo ao entretenimento, ela foi mais uma vez desafiada. “Quando apresentava o telejornal, a Beth Passos fazia um programa de entretenimento, e ela saiu da TV. O Roberto Moura gostava desses programas e me pediu pra criar algo na área. Eu achava Rio Branco pequena para trabalhar somente eventos, então criei uma revista. Algo que tivesse culinária, moda, saúde e eventos, e aí criamos o Geração Gazeta”, conta.
Jô revela sua contrariedade inicial em ter que deixar a bancada do telejornal. “Foi um trauma, porque eu queria apresentar os dois, mas ele disse que era impossível eu coordenar os dois e determinou que eu ficasse só no Geração. Eu sou verdadeiramente apaixonada pela notícia, pela informação, por mais que esteja num show, num evento, eu vou sempre privilegiar a informação. Fiquei chateada e decepcionada, apesar de ter criado um ‘filho’ que fez sucesso, eu não queria ter saído da bancada do jornal, mas colhi bons frutos. O Geração é a revista eletrônica mais conhecida da região, inclusive no interior, fiz viagens… fizemos sucesso”, relembra.
Uma pessoa de ciclos
Quando decidiu empreender e ser dona de seu próprio programa, Jocely Abreu encarou mais essa transição como uma mudança de ciclo e, segundo ela, apesar dificuldades, esse pensamento facilita a sua vida. “Eu entendo que tudo tem começo, meio e fim. A vida é feita de ciclos, e eu entendo isso perfeitamente, por isso, a minha vida se desenrola de forma muito suave, sem traumas e sem ressentimentos. Eu queria empreender, ter um programa meu, e a TV não tinha espaço pra isso. Quis ter minha produtora, minha agência e foi daí que surgiu o Programa da Jô. Sou de uma época em que as pessoas faziam jornalismo com verdadeira paixão, a gente não pensava muito no dinheiro não, e até hoje é assim”, reafirma.
O Programa da Jô
O Programa da Jô foi assim “batizado” pelo próprio Roberto Moura, de acordo com Jô. “Depois de 17 anos, saí da TV e abri minha produtora e o programa, e não foi difícil, porque eu tinha conhecimento. Um mês depois, estava no ar com a estrutura necessária. E foi o Roberto Moura que batizou de Programa da Jô, porque ele não falava Geração Gazeta, só falava Programa da Jô. Então, ficou assim nas outras emissoras. Primeiro na Band e, depois SBT, de semanal de noite para diário e ao vivo, no horário meio dia, outro desafio, e só parei porque fiquei grávida e ficou difícil administrar a maternidade e o programa”, relata.
Arrependimento
Indagada sobre o “ser mulher” no meio, Jô diz que não teve dificuldades por isso. “Nunca me senti discriminada, mas ralei muito, porque empreender é muito difícil, mas não me arrependo de ter saído da TV para empreender e não me arrependo de nada que fiz. Se voltasse no tempo não faria nada diferente. As portas sempre se abriram, porque sou muito ética, perfeccionista e trabalho com amor em tudo que faço.”, enfatiza.
As carinhas “novas” das redes sociais
Em relação a se reinventar como profissional para continuar firme na profissão, com o boom das redes sociais e as carinhas “novas” das influencers digitais, Jocely afirma que sempre encarou tudo com muita naturalidade. “Sempre fui uma criadora de conteúdo, sempre usei as redes sociais pra divulgar meu trabalho, então, não foi novidade, porque sempre estive antenada e busquei o novo, mas dificultou, porque a ascensão das redes sociais prejudicou as TV e jornais. Houve, sim, um impacto financeiro”, explica.
Na entrevista, Jô conta os detalhes de como superou os impactos financeiros em sua renda, o que fez para ter melhores rendimentos mensais, durante os períodos de mudança na carreira, e como foi sua saída da TV Gazeta.