Imaginar um diálogo longo e cheio de sacadas e sair do banho com um tantinho de condicionador mal enxaguado no cabelo: confere. Chorar numa cena besta de seriado açucarado. Ir para um território longínquo e desconhecido enquanto completa algum formulário burocrático. Chorar numa cena séria de um seriado intelectualzinho. Ficar maravilhada com a existência das coisas mais simples. Se perder no choro e esquecer por onde ele começou: total confere. É. Peixes, rapaz.
Mas tu acredita nessas coisas? Eu mesma não. Tu acha? Canto com força Da maior importância de Caetano, bem no pedacinho do “Porque eu sou tímido e teve um negócio
de você perguntar o meu signo quando não havia signo nenhum. Escorpião, sagitário, não sei que lá. Ficou um papo de otário…”.
Na verdade, tenho horror da conversa do zodíaco. Por que? Porque sou de peixes, o signo descrito como o mais abestalhado de todos, fácil de enganar, emocionado, desorganizado, besta mesmo. E março é um mês tão querido, não é? Dá até uma dó.
E aqui estou brincando com vocês ao descrever características minhas reunidas a partir de um signo – tô nada; mentira, tô – pra dizer do que reconhecemos, cultivamos e, ao mesmo tempo, rechaçamos em nós. Ontem, encontrei um amigo que me fez lembrar do nuclear de minha infância. Minha irmã é mais velha do que eu um ano somente . Desde pequena sou louca por ela. Quando brigávamos, era preciso fazer um grande esforço para lembrar que estávamos de mal. Eu me distraía um segundo e, quando me dava conta, já estava lá dividindo um pacote de biscoito recheado e assistindo Barrados no baile com ela como se nada fosse.
E aí que encontrei o amigo com quem estava chateada, a quem tinha, inclusive, comunicado a minha insatisfação, e, adivinha. Esqueci do pacto de geladeira que fiz comigo mesma. Quando nos despedimos, ri da minha falta de emenda e botei a culpa na posição dos astros naquele 3 de março lá de longe. Ai, Freud, nem sei o que te dizer. Fica de mal não, rapaz. É que eu sou de peixes. Boa semana pra vocês queridos.
Roberta D´Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu e escreve semanalmente para A Gazeta do Acre e outros 17 veículos no Brasil, Estados Unidos e Canadá.