Na última década, o número de pessoas com depressão aumentou consideravelmente. O levantamento, feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mostrou que mais de 300 milhões de indivíduos em todo o mundo convivem com a doença.
Nesse contexto, o Brasil ocupa posição de destaque com cerca de 12 milhões de pessoas afetadas; a maior taxa em todo o continente latino-americano. No Acre, segundo dados do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), o transtorno é maior entre jovens de 15 a 29 anos.
De março de 2020, período marcado pelo início da pandemia do novo coronavírus, até a data atual, aumentou ainda mais o número de pessoas diagnosticadas com a doença. Um estudo publicado em outubro deste ano na revista científica The Lancet mostrou que a doença causou um aumento de mais de 25% nos casos de depressão e ansiedade em diversos países.
Sobre o que o vírus trouxe nos efeitos psíquicos da população, a psicóloga Natalia Cristina Viana de Albuquerque, enfatizou que o isolamento social, o medo e a incerteza foram catalisadores para os sintomas ansiosos e depressivos.
“A Covid-19 contribuiu de forma significativa para a evolução nos casos de depressão e ansiedade, pois ter a vida completamente mudada do dia para a noite, é algo assustador para muitos. O futuro se tornou algo incerto, com isso veio a insegurança, o medo e consequentemente a ansiedade. Em decorrência disso, os sintomas depressivos se intensificam, como exemplo, a insônia, os consumos excessivos de bebidas, cigarros, não realizar atividades físicas, como a caminhada. Um dos fatores mais graves foi a falta de convívio social. O isolamento prejudicou de forma significativa a cognição e os pensamentos fora da realidade, gerando com isso, comportamentos desadaptativos, que são padrões emocionais e cognitivos”.
Uma doença da alma
A psicopedagoga Andreia Nogueira de Lima, de 42 anos, disse que há quatro anos sofre de depressão e que se apega a Deus para se curar da doença. “No início é uma doença muito sútil, você pensa que é somente uma tristeza, um momento difícil devido às circunstâncias que você está vivendo, como uma perda, que com o passar do tempo irá superar, mas não é bem assim. Se a tristeza persiste por quatro, cinco meses, já é o momento de pedir ajuda. Reconhecer primeiro que está doente, que tem algo errado com você, que isso não é normal. Busquei ajuda e ainda estou lutando. Me apego na fé, estou ouvindo mais a palavra de Deus, e quando vem a tristeza busco mais ao Senhor, me aproximo mais dos meus filhos, que são minha família no Acre, pois os meus outros parentes moram em Porto Velho”.
Nogueira falou que começou a perceber a doença em 2017, quando perdeu seu pai, diagnosticado com câncer. “Sofri muito com a morte do meu pai. Em seguida, descobri que meu esposo também estava com câncer. Com a morte do meu marido, em 2019, após lutar muito ao seu lado em busca de tratamento, é que a doença aumentou. Tudo ficou muito difícil. Para ‘espantar’ a tristeza, fui participar de projetos sociais da igreja, o que me ajudou muito, porém ainda me sentia infeliz em alguns momentos. Não pelo que estava fazendo, mas por outros motivos”.
Tentativas de suicídio
No Estado, de 1º de janeiro a 22 de outubro deste ano, de acordo com o Corpo de Bombeiros (CBMAC), 301 ocorrências de tentativa de homicídio foram registradas. “Com a pandemia, a gente percebeu que se intensificou a questão da depressão onde houve o cerceamento da interação social, então as pessoas ficaram cada vez mais sós sem ter com quem conversar sobre seus problemas”, salientou o tenente Felipe Santiago.
Ansiedade e depressão
Ansiedade é um termo geral, usado para caracterizar distúrbios que causam angústia, medo, apreensão, nervosismo e preocupação. Ela é uma reação natural a algumas situações da vida, como uma entrevista de emprego ou na véspera de exames de saúde.
A depressão é uma doença psiquiátrica em que a pessoa sente tristeza profunda, baixa autoestima e sentimento de culpa recorrente. Além disso, vivencia distúrbios do sono e do apetite, perde o prazer ou a alegria nas atividades e relações pessoais, se sente desmotivada ou sem energia e pode apresentar pensamentos suicidas.
Em ambos os distúrbios podem ocorrer falta de interesse sexual, mal-estar e cansaço frequente, sudorese, taquicardia (coração acelerado), dores e sintomas físicos, entre outros. A pessoa se sente paralisada e incapaz, seja pelo medo, angústia ou falta de motivação.
O crescimento de casos na pandemia
A pandemia do coronavírus impactou a sociedade e todos os indivíduos em diversas esferas. Primeiramente, houve um grande impacto no âmbito financeiro, uma vez que empreendimentos, comércios e outros tipos de negócios tiveram que ser interrompidos, o que resultou na perda de empregos e falência de empresas.
O desemprego ou a diminuição da renda foram fatores ligados ao surgimento de sintomas depressivos e ansiosos, devido à incerteza e o medo de não conseguir arcar com as responsabilidades mensais e necessidade dos familiares. Além disso, foi necessário promover o isolamento social para diminuir a propagação do vírus e o número de casos.
Os impactos no comportamento
Em meio à crise, cada indivíduo reage e sente a situação de forma diferenciada. Por esse motivo, muitas pessoas se sentem confusas, amedrontadas, desorientadas, ansiosas, anestesiadas ou tentam manter distanciamento emocional, isolando-se. As reações podem ser leves e passageiras, mas também extremas, impactando de forma negativa a saúde social e mental.
Qualquer pessoa está mais vulnerável a reações psicológicas durante a pandemia, o que não deve de forma alguma ser escondido ou interpretado com vergonha. Os impactos no comportamento podem ser sintomas físicos, como tremores, agitação, dores de cabeça, cansaço e palpitação. Também é comum vivenciar momentos de tristeza, solidão, incapacidade, medo, frustração e ter episódios de choro fácil, alterações no sono e se sentir desorientado.
Todo o cenário representou e ainda representa uma carga emocional muito forte, principalmente para as pessoas que já são mais fragilizadas. Sem os devidos cuidados, pode ocorrer uma recaída ou a intensificação de um problema já existente. Na depressão, por exemplo, os episódios depressivos podem ser mais graves, evoluindo para uma tentativa de suicídio.
A importância em buscar ajuda
A ansiedade e a depressão podem ser tratadas, a fim de recuperar a qualidade de vida. A base do tratamento consiste em medicações que aumentam o bem-estar e deixam os sentimentos negativos longe, assim como na terapia.
Albuquerque salientou que qualquer sintoma dos transtornos, as pessoas devem procurar ajudar de um profissional. “Para vencer essas doenças, o primeiro passo é buscar ajuda. Dessa forma, o paciente terá todo acompanhamento emocional, além de outros cuidados que se fazem necessários durante o tratamento”, disse a psicóloga.