Embora educação e a ética estejam relacionadas, desde a Antiguidade, observa-se um distanciamento entre a teoria e a prática neste mundo contemporâneo. Pois ao tempo em que as pessoas reconhecem ser a educação o motor do mundo, o governo não valoriza os profissionais de educação e as verbas para esse fim são ínfimas. Falam-se de novos investimentos, mas no real as instituições públicas, de ensino, estão sucateadas, os profissionais desvalorizados.
E nesse mundo onde a ética deve vir em primeiro plano, no sistema educacional do Brasil, por exemplo, não há diretor, nem orientador ou professor que não se digam comprometidos com a relevância da ética para o agir educativo. Mesmo assim, ao primeiro olhar sobre a estrutura curricular e o quotidiano escolar, constata-se que a ética ocupa um lugar muito singelo, muitas vezes só um pequeno recorte disciplinar ou, quando muito, uma atividade transversal no ambiente das escolas. É preciso ir além. A vida sem ética é um campo minado que pode explodir, afundar a qualquer momento.
Olha-se, no país, na raiz desse aparente e real desinteresse, uma questão urgente concreta, que merece resposta na mesma proporção: o que pode ou deve a escola fazer, em termos de educação ética? E, mais, nesse contexto de sociedade dita “democrática e pluralista’ — que não dispõe de valores onde haja consenso por parte das políticas públicas, das grades curriculares, capazes de inculcar nos jovens valores ou formas de comportamento que os conduza a um futuro mais seguro e melhor — onde encontrar esses ensinamentos? O que faz o Brasil pela valorização da ética como conduta de vida? Ética se aprende onde?
Parece, nesse cenário frio, onde a sociedade multicultural ainda não está fortalecida ou consciente da importância da mobilidade social, nessa era de globalização, as coisas estão a ir embora pelo “ralo do descaso”, da “enganação”. O governo diz que vai fazer, mas não faz, ilude a população. Deve-se olhar, de modo urgente, que o mundo mudou, logo a política educacional deve mudar, avançar, multiplicar seus valores e visões, que irão se refletir no ser humano, que deve ser, SEMPRE, o centro do Universo.
Mas o que se avista é um alheamento, uma disparidade entre o ensino, a educação e a ética. Não são, somente, diferenças macro, como são entre primeiro e terceiro mundo. Há diferenças microculturais existentes no interior das comunidade, entre os vários grupos sociais, culturais e étnicos, todos a exigir, de forma diferenciada, educação e ética. A escola é o ambiente sagrado, sacrossanto, onde as famílias devem deixar seus filhos em segurança, para que possam trabalhar e ajudar a escola a Educar o Mundo. Os professores, sozinhos, não vão “salvar” os jovens. Os profissionais necessitam de motivação, preparo e bons salários.
Nesse contexto, entendo que a escola atual encontra-se diante de um desafio de difícil solução: como aproximar a educação das necessidades sociais e do mundo ético? Como despertar nas autoridades o dever de fazer cumprir os preceitos constitucionais? Como fazer nascer no seio da sociedade a consciência de que sem educação e ética o mundo caminha para o caos? É urgente valorizar a Educação, o Educador, o jovem educando.
Tanto essa questão é premente que, no mundo moderno, essa noção de VALOR é retomada por Thomas Hobbes (1588-1679), que diz o seguinte: “ o valor não é absoluto, mas depende da necessidade de um juízo”. Valor, portanto, é aquilo que é estimado como tal, através de um juízo, por um grupo de pessoas que constitui a sociedade. E enquanto a Educação não for considerada “valor”, a sociedade não irá recebê-la com qualidade.
E para implantar esse sonhado sistema educacional de valor ético, a natureza humana deve se submeter a regras de disciplina, cultivo do saber, respeito às pessoas, valor à vida, moralização dela. Todavia, esses papéis não podem ser desempenhados somente pelo professor. Deve haver compromisso político do governo, com a participação de toda sociedade. Assim, todos devem saber que o professor transmite informações e o educador educa para a vida.
Acredita-se que “O bom professor”, deve estar, ele mesmo, comprometido com a ideia de liberdade, a qual é ao mesmo tempo o objetivo de sua atividade educativa, na medida em que almeja transformar o educando num cidadão esclarecido, maduro, autônomo, capaz de se autodeterminar, bem como responder por seus atos.
Do ponto de vista educacional, isto significa que o professor deve levar os seus alunos a refletir sobre quais são os valores com os quais podem sentir-se comprometidos e responsáveis. A tarefa educativa fica reduzida ao estímulo da reflexão pessoal e do esclarecimento e orientação aos alunos. Cada indivíduo é responsável pela construção de sua própria vida. E, naquilo que diz respeito aos valores de ordem pública e social, serão as contribuições científicas e técnicas que irão decidir o futuro da nação, dos jovens, da educação de qualidade. Avança, Brasil!
DICAS DE GRAMÁTICA
Diferença entre “onde” e “aonde”
Onde = que lugar, em que lugar, qual lugar. Indica permanência, uma ideia estática, o local em que se encontra ou ocorre algo. Vem normalmente acompanhado de verbos que indicam estado ou permanência.
Exemplos:
Onde você está?
De onde você está teclando?
Não sei onde ele estava e nem perguntei.
Afinal, onde você mora?
Aonde = a que lugar, para onde. É a junção da preposição “a” + onde. Dá a ideia de deslocação. Vem normalmente acompanhado de verbos que indicam movimento como ir, chegar, retornar, voltar e outros.
Exemplos:
Aonde você vai a essa hora da noite?
Aonde nos levará essa política brasileira?
José ficou perdido, simplesmente não sabia aonde ir.
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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.