Há indagações curiosas feitas no decorrer da vida. Uma delas é sobre alma e espírito, se são a mesma coisa? Quando criança, aprendi que sim. Depois, ao crescer, descobri que mesmo sinônimas na fé, também são palavras polissêmicas. Ou seja, podem ter vários significados, a depender da intenção de quem as utiliza. Embora, muitas vezes, usadas com o mesmo sentido, haverá uma distinção entre uma e outra?
A palavra espírito pode ser traduzida por “vida”, “alma”, “criatura”, “pessoa”, “apetite” (ou “desejo”), “mente” e o “próprio ser”. Enquanto a alma relaciona-se com as necessidades básicas da vida e até mesmo com a própria vida. A alma humana possui três potências — e não partes — três capacidades: a de conhecer, ou inteligência; a de querer, ou vontade; a de sentir, ou sensibilidade. Por isso a alma então não é composta. Ela é simples.
Segundo Platão, o espírito é peregrino neste mundo, prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor nostálgico, pelo eros platônico. A alma é o foco da consciência e da personalidade. Sente, pensa e quer.
Vê-se, então, pela substância, que o espírito não se separa da alma nem a alma do espírito. E sendo a alma espiritual, não existe na pessoa humana um espírito distinto da alma. Além do mais, toda a alma está ligada ao corpo, como a forma está ligada à matéria. Um corpo é uno, embora composto de alma e espírito.
Nos animais irracionais, diferente dos racionais, a alma é coincidente com a vida. O animal não tem alma espiritual. Por isso, quando ele morre, morre sua alma que é a vida dele. Enquanto no meio humano, quando uma pessoa morre, a alma se separa do corpo — a morte é essa separação — e a alma se apresenta diante de Deus para ser julgada.
Todas as religiões do universo, bem como a convicção milenar do pensamento filosófico, afirmam a existência da alma. Só o positivismo e o materialismo tentam negar a sua existência. Mas, afinal, quem prova a existência da alma e do espírito?
O Amor, necessidade fundamental na vida, prova a existência da alma e do espírito. O Amor é o pão da alma e do espírito. A alma, apesar de não ser material, necessita de um alimento, uma forma de energia, e a melhor forma de nutrir a alma é dar-lhe um significado, é transformar o ser humano Torrente em ser humano de Desejo, fazendo cumprir o que determinou Deus: crescei e multiplicai-vos. Amar uns aos outros.
Assim, alma e espírito se alimentam do Amor e também aí se completam. Pois da mesma forma que o corpo nutre-se de recursos orgânicos para sua sobrevivência, o espírito vai nutrir-se de recursos afetivos para o seu equilíbrio íntimo. Amar é importante. O Amor é tudo na vida, também alma e espírito juntos.
Afinal, qual o segredo da alma e do espírito? Está no coração das pessoas. Reside na felicidade, o bem maior depois da vida. O segredo é ser bom. Assim como o segredo do perdão é olhar sem julgamento. O segredo da fé é procurar as provas. O segredo do carisma é olhar com amor. O segredo da saúde é a alegria. O segredo da força é a vontade. O segredo do amor é a inteligência. O segredo do destino feliz é ficar no melhor. O segredo do equilíbrio é buscar o espiritual. A Vida tem seus segredos, mas para quem está atento e não vive para prejudicar os outros. Alma e espírito harmônicos traduzem felicidade. Então, que cada pessoa cultive bem a alma e o espírito e todos serão felizes.
LIÇÕES DE GRAMÁTICA
MUITO OBRIGADA, EU MESMA, EU PRÓPRIA
As mulheres devem dizer: muito obrigada, eu mesma, eu própria.
Os homens devem dizer: muito obrigado, eu mesmo, eu próprio.
MAIORIA FOI/ MAIORIA FORAM
O verbo deve concordar com o sujeito, não há outra alternativa.
Exemplo: A maioria foi embora.
Mas há polêmica quando se determina a maioria.
Exemplo: A maioria dos alunos foi embora.
Há gramáticos que admitem a concordância com o determinante do coletivo:
A maioria dos alunos foi (ou foram) embora.
A multidão de torcedores fanáticos aplaudiu (ou aplaudiram) a jogada.
MÚSICA/ MÚSICO
Parece esquisito, mas feminino de “músico” (o profissional) é música (a profissional). Há coincidência com o substantivo música no sentido de “arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido”.
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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Membro da Academia Brasileira de Filologia e Academia Acreana de Letras.