Meu bom amigo Sebastião Afonso Viana Macedo Neves, saudações republicanas! Como registravam os antigos, rogo que esta ao chegar às tuas mãos vá encontrar-te gozando da mais perfeita harmonia junto aos que lhe são caros, muito especialmente aos seus familiares. Que Deus vos ilumine sempre!
Tive o prazer de ver você prestando as justas e merecidas homenagens ao nosso Padroeiro, São Sebastião de Xapuri. Também eu estava lá, como há muito tempo. Rezavas, sim, com muito fervor, afinal, trazes na índole a marca do católico apostólico com que fomos impregnados pelos nossos ancestrais, desde muitas décadas passadas. Os sorrisos teus, realmente, muito sinceros, eram distribuídos a todos com quem cruzavas o olhar cheio de fé nos dias cada vez melhores que o Acre tem já experimentado desde algum tempo. Os mais humildes tiravam retratos abraçados ao governador e aos senadores. Os olhos de ambos brilhavam; uns de admiração, outros por puro prazer em compartilhar da felicidade que é serem cidadãos bem vistos entre tantos milhares de seres humanos tão esperançosos pelos dias melhores que hão de vir, na graça de Deus.
Vós, entretanto, detentores do poder outorgado pelo povo, homens de grande visão e sensibilidade, passastes e não vistes alguma ou muita coisa indizivelmente gritante aos olhos dos que chegam à festa um ou dois dias antes da grande procissão. É claro que o imenso número de fiéis que vos rodeava não permitiu que alguns detalhes horríveis fossem vistos pelos que detêm o poder – vós – que sois os reais donos das soluções, exatamente, porque todos os demais municípios, notadamente os mais antigos, tiveram resolvidos os seus problemas mais urgentes, como é o caso da questão urbanização.
Os buracos, com o advento do inverno, multiplicaram-se por um bilhão de vezes. A praça Getúlio Vargas está semi destruída e o coreto, onde acontecia a retreta dominical antes descrita por mim, está deteriorado, em petição de miséria e os bancos de ferro desapareceram. O logradouro em frente à Casa Branca está completamente abandonado. O mercado onde negociam cereais, em frente à maçonaria, está uma pocilga. A imagem de São Sebastião, à beira do rio, está uma calamidade. A entrada da cidade, bem em frente a um supermercado moderno, é um atoleiro. Ruas tradicionais há muito não merecem sequer um único benefício que seja, como consertá-las onde os tijolos desapareceram por obra do tempo… O que têm feito com a nossa história de caudilhos? Destroem-na!
Segundo consta, o Oscar Niemayer desenhou um projeto que modernizaria a beira do Rio Acre, tiraria dali os botecos e os colocaria em outros locais mais apropria-dos, que não tirem a beleza, antes tão admirada, das pequenas canaranas que tingiam de um verde iluminado toda a extensão dos barrancos em frente à cidade.
Perguntei, então, sobre este e sobre muitos outros projetos, como é o caso da ponte que liga Xapuri ao bairro Sibéria. Ninguém sabe. Ninguém viu. Uma lástima!
Há uma intriga aberta – não velada – entre o alcaide e o seu o vice. Eles não se entendem. São intrigados de sangue a fogo. A administração municipal caiu no colo do segundo que talvez não saiba sequer onde o titular escondeu as chaves da cidade em ruínas. Certo é que o caos está instalado e o senhor prefeito disse estar em Brasília, isto, numa época em que a capital federal está esvaziada e ninguém que possa resolver alguma coisa lá pode ser encontrado… Só ele, o prefeitinho!
Tenho visitado alguns dos nossos municípios. As mãos imensas do Governo do Estado lá são bastante operosas e em todos os cantos se vê uma obra, inclusive e principalmente, onde o prefeito é oposicionista. O projeto que trata da exploração do petróleo abrange todos os municípios mais velhos do Estado. Perguntado sobre o que teria ocorrido, ou quais seriam as causas da não inclusão de Xapuri no mega projeto, o eminente Prof. José Fernandes do Rego, um dos nossos gurus, disse apenas:
– Não. Xapuri não está incluída. – E pronto.
Nadando de braçada em meio a um mar de projetos de todos os naipes, o prefeito de Rio Branco disse ter aprovado todos eles, com recursos garantidos ou já em caixa. Ao que não me restou mais nada, a não ser ficar aborrecido e com inveja, porque para Xapuri nenhum recurso é alocado e nada de novo, pelo menos em termos físicos, surgiu nos últimos 10 ou 20 anos.
Governador! Nós estamos indo para onde?
Lembro, então, o Jairo Salim Pinheiro de Lima, xapuriense de boa cepa e meu particular amigo, que foi professor do prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, na USP / Ilha Solteira (SP). Lá, ele ainda é coordenador do Curso de Engenharia Civil, manda bem e sonha com o dia em que voltará a morar em Xapuri, quando aposentado, isto, segundo ele, daqui a algumas luas, para fazer um trabalho bem feito.
O Jairo bíblico conseguiu a cura da filha, já quase morta, através de um milagre de Jesus. No nosso caso, Xapuri passa a ser a filha de um outro Jairo que, cheio de fé, disse que deixará de ser professor da USP para vir em busca de uma cura que não depende única e exclusivamente do Mes-sias, a não ser que Ele queira colaborar, ou entrar com um patrocínio direto.
O Jairo Salim, um engenheiro civil conhecido internacionalmente, seria, talvez, a solução para o caos instalado… Eu o ajudaria, com certeza, apesar de outros projetos de vida que tenho em mente.
Como pregam os cristãos da modernidade, deixemos de lado as picuinhas partidárias. O ecumenismo está na moda. Importa, sim, a dor do irmão, independentemente das suas razões ideológicas ou religio-sas. Todos sabem que a maioria dos nossos prefeitinhos do interior do Acre se elege como uma forma de dizer para as jovens amantes que têm algum poder. Depois, na hora do trabalho sério, eles, projetos de cidadãos, sequer sabem dizer a que vieram.
A Associação dos Municípios do Acre poderia dar uma força na concepção e elaboração de projetos, mas o alcaide menino de Xapuri sequer sabe o endereço da Instituição.
Boa parte da população concorda com a afirmação acima e a memória de Chico Mendes é aviltada, porque tudo de ruim tem acontecido a Xapuri nos últimos anos.
É hora de acordar, senhores e senhoras! Os nossos votos também valem, e muito.