Dona Maria Cunha do Nascimento, 67 anos, lavava roupas ontem de manhã, quando abriu um largo sorriso ao receber a reportagem de A GAZETA à porta de sua casa, na Travessa Antônio Pereira da Silva, no Bairro Montanhês. A razão para tanta simpatia guardada no coração tinha uma motivação muito especial a ser compartilhada com a equipe: a de ter obtido, por meio do Ministério Público do Estado do Acre (MPE), uma resposta à altura das necessidades de sua família.
Há pouco mais de cinco meses, mais precisamente no dia 24 de maio deste ano, Maria do Nascimento ouviu falar que o Programa MP na Comunidade estaria atendendo na sua região, oferecendo serviços e ouvindo a população local. Ela esteve lá na Escola Pedro Martinello e resolveu.
Na ocasião, a reportagem narrou o drama dela. Três anos antes, com o marido, o servente de pedreiro Sebastião Carvalho, 55 anos, recebeu a guarda de Maria Rosângela Feitosa da Silva, 44 anos, vítima de torturas praticadas pelo esposo por pelo menos 20 anos. Das sessões de horror, ela contraiu problemas mentais e físicos.
Sem poder andar e sofrendo de demência mental, o sofrimento de Maria Rosângela só poderia ser atenuado com a intervenção da equipe do MPE, por meio do MP na Comunidade.
Além da falta de um profissional médico que pudesse lhe oferecer a assistência devida, faltavam medicamentos, fraldas geriátricas e uma cadeira de roda, já que em média a família de Maria do Nascimento gastava R$ 400 por mês com higiene pessoal e remédios, mas quase sempre não tinha essa quantia.
“Eu acreditei muito que nosso problema seria resolvido por estes senhores [promotores, procuradores e servidores de apoio do MPE]. Acreditei e vi tudo acontecer de melhor. Em pouco tempo, menos de dois meses, estávamos vendo tudo se concretizando”, comemora a dona de casa.
Atualmente, Maria Rosângela tem uma cadeira de roda especial, que oferece mais conforto do que as tradicionais, fez recentemente exames, incluindo ultrassonografias e constatou que só tinha um pouco de anemia.
Um dia ao mês, ela recebe a visita de uma médica, a mesma do centro de saúde local, e recebe remédios e fraldas custeadas também pelo Estado.
A falta de condição para sair de casa até o posto de saúde, porque a travessa estava intrafegável, foi uma das reclamações feitas pessoalmente por Maria do Nascimento ao procurador-geral do MPE, Oswaldo D’Albuquerque Lima, no Dia “D” do MP na Comunidade, em 24 de maio.
“Eu me lembro dele dizendo que honraria com os meus apelos. E assim o fez”, relembra a dona de casa, em gesto de gratidão.
Hoje, a Travessa Antônio da Silva, onde a família reside, ainda não está 100% concluída, mas incrivelmente melhor do que há cinco meses. A Rua João Minas Coelho, que passa adjacente, foi pavimentada pela Prefeitura de Rio Branco, que eliminou o matagal e as valas lamacentas que amarguravam os dias da família.
O que se vislumbra neste caso é o cumprimento de uma das diversas funções do Ministério Público, cuja Constituição de 1988 faz referência no capítulo “Das funções essenciais à Justiça”. A Instituição torna-se uma espécie de Ouvidoria da sociedade brasileira, para a felicidade das duas Marias, a Rosângela e a do Nascimento, do Montanhês.
(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)