Escalado pela presidente Dilma Rousseff para divulgar ações do governo e criar uma agenda positiva em meio à crise política, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva (PT), disse que o escândalo envolvendo João Vaccari Neto, tesoureiro afastado do partido, não atinge o Palácio do Planalto. “Vaccari não é problema do governo. É problema do partido”, afirmou Edinho, que foi presidente do PT paulista e tesoureiro da campanha de Dilma em 2014. “Essa agenda infelizmente é negativa, mas tem de ser tratada no campo partidário. Eu garanto 100% que Vaccari não arrecadou para a campanha de Dilma. Não existiu nada de informal ali”.
O ministro deixou claro na entrevista a estratégia do governo de tentar se distanciar das denúncias que abalam a imagem do PT. Diante de novas investidas da oposição pelo impeachment, Edinho procurou mostrar tranquilidade. “Às vezes as forças políticas exageram”.
O PSDB e outros partidos de oposição defendem o impeachment, em especial após a prisão de Vaccari. Como o governo vai reagir a isso?
O governo não tem de reagir porque essa tese só tem objetivo político-partidário. Não tem respaldo legal. Às vezes as forças políticas exageram por leitura equivocada da conjuntura, por achar que subir o tom dialoga com uma parte da sociedade.
Mas o Tribunal de Contas da União considera que manobras fiscais feitas em 2013 e 2014 poderiam ensejar crime de responsabilidade da presidente.
Há um posicionamento do TCU em relação a uma leitura administrativa que vem de 2001 e 2002. A lei não foi violada. No governo anterior, de outro partido, também houve isso (manobras fiscais).
A prisão de Vaccari veio no momento em que Dilma tentava reagir à crise, nomeando Michel Temer para a articulação política com o Congresso. Como administrar o problema Vaccari agora?
Vaccari não é um problema do governo.
Não? Mas o PT é o partido da presidente…
É um problema do partido. Penso que o PT se posicionou. O governo é composto por uma coalizão, não é só de um partido. Essa agenda infelizmente é negativa, mas tem de ser tratada no campo partidário. A presidenta Dilma está liderando a construção de uma agenda de médio prazo extremamente positiva para o País, com a retomada do crescimento e geração de empregos.
Essa situação, com o tesoureiro do PT preso e obrigado a se afastar do cargo, não causa constrangimento ao governo?
É evidente que eu, como filiado ao PT, não gostaria que meu partido estivesse passando por isso. Torço para que as investigações sejam concluídas e que o direito ao contraditório seja respeitado. A hora em que a verdade aparecer será bom para o PT, para todos os partidos e para a democracia. Toda vez que a política se enfraquece abre espaço para salvadores da Pátria e para saídas autoritárias.
Foi o que ocorreu nas manifestações contra a presidente?
As manifestações são legítimas. O País tem de conviver de forma democrática, pacífica, com pensamentos divergentes. O que não podemos é estimular o ódio. Aqueles (partidos) que se alegram hoje são os mesmos que choravam no passado. Ou mudamos a organização política e fazemos uma reforma política verdadeira ou então a cada período o País vai conviver com escândalos.
O sr. foi tesoureiro de campanha em 2014. Que garantia o sr. tem de que Vaccari não arrecadou informalmente recursos para o comitê da reeleição, ou mesmo em 2010, já que os delatores da Lava Jato dizem que deram dinheiro a ele para a campanha?
Eu garanto 100% que ele não arrecadou porque o tesoureiro no ano passado era eu. Em 2010 o tesoureiro foi José de Filippi (atual secretário de Saúde de São Paulo). Todas as nossas contas foram aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral e eu asseguro que nada de informal aconteceu na campanha da presidenta Dilma.
O sr. julga Vaccari culpado?
Todo acusado tem o direito ao contraditório, a se defender. Não quero dar opinião.
O governo é acusado até por petistas de não se comunicar bem. O que vai mudar?
Qual a grande demanda desse momento? É fazer com que as informações sobre o ajuste econômico possam chegar à sociedade da forma mais objetiva possível. A cartilha que lançamos, Ajustar para Avançar, também ajuda os ministros a entenderem as medidas do ajuste. A partir daí haverá várias peças informativas e uma campanha no rádio, na TV e na internet. Se a sociedade entender o que está sendo feito, não tenho dúvida de que o otimismo e a confiança no governo vão aumentar.
O problema não seria porque a presidente disse uma coisa na campanha e está fazendo outra agora, como, por exemplo, em relação ao seguro-desemprego?
Não. Em relação ao seguro desemprego, muitas vezes era mais proveitoso para o trabalhador usufruir do seguro-desemprego do que do emprego. Nenhuma lei é intocável. E nem pode ser, porque a sociedade muda. O ajuste fiscal está sendo adotado para garantir justamente os programas sociais, o emprego e os direitos adquiridos dos trabalhadores.
As pesquisas indicam que os escândalos de corrupção, do mensalão à Petrobras, abalaram até a imagem do ex-presidente Lula. Mesmo assim, ele ainda será candidato em 2018?
Nossa!!! 2018 está muito longe… Do mesmo jeito que a presidenta Dilma tem uma biografia invejável, Lula é um símbolo da reorganização dos movimentos sociais, da ascensão dos filhos dos excluídos. E esse símbolo não ficará desgastado por uma disputa político-partidária. (Vera Rosa e Tânia Monteiro, Estadão / Portal MSN Notícias)