Um dos assuntos que tem tomado conta do debate virtual foi o trágico acontecimento com a criança violentada, que também foi submetida ao crime de aborto (criança, portanto, vítima de duas atrocidades, mas sendo que apenas uma será passível de punição estatal).
Um amigo falou-me que faço a defesa apaixonada desse assunto (ser contra o aborto, mesmo nas hipóteses permitidas na atual legislação). Apesar de reconhecer que realmente acabo externando “paixão” nas linhas que escrevo, em nenhum momento utilizo-me, no debate público, de argumentos religiosos, até porque sei que eles não podem convencer a quem não professa a mesma fé que eu.
Dito isso, dirijo esta singela reflexão aos que PROFESSAM A FÉ CRISTÃ CATÓLICA (os que, batizados, rezam o Credo Apostólico Romano em suas orações públicas ou particulares). Portanto, com todo o respeito, se você não se enquadra na categoria, por favor, não me leve a mal: sua opinião não me importa; assim como a minha, com os presentes argumentos, não importa a você.
Pois bem. Hoje, outro amigo relatou-me que fez uma pesquisa “informal” com algumas pessoas de LIDERANÇA da nossa Igreja, constatou, abismado, que MUITOS desses “líderes” manifestaram-se favoráveis ao aborto no caso em questão.
Reconheço que é uma “situação-limite” e que não há solução sem sequelas (e graves). Ocorre que a posição da Igreja, cuja fé professamos, é bastante clara e inegociável sobre o assunto.
Cada um, individualmente, pode ter a opinião que quiser ter sobre o tema, mas no momento em que alguém se identifica como católico, não há muita saída: ou adere a fé professada ou não adere. Inexiste um meio termo democrático. Santo Agostinho diz que se rejeitamos um artigo de fé, rejeitamos a fé inteira.
Enfim, não tem como ser católico de “self-service”, que só concorda com o que lhe convém.
Há vários assuntos da fé e moral católica que admitem diversidade de pensamentos e conclusões. Porém, neste assunto (aborto) a Igreja Católica não permite uma interpretação que não seja a da mais absoluta oposição.
Para exemplificar, o Catecismo da Igreja Católica, no número 2271, ensina que esta orientação do cristianismo existe DESDE O NASCEDOURO DA IGREJA. Assim diz o texto: “A Igreja afirmou a maldade moral de todo aborto provocado. Este ensinamento não mudou. O aborto direto, quer dizer, querido como um ou como um meio, é gravemente contrário a lei moral”.
A Didaqué, documento do PRIMEIRO SÉCULO do cristianismo, diz claramente: “Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido”. Isso precisou ser dito pelos primeiros cristãos porque a prática do aborto era comum na sociedade da época… essa barbárie foi vencida, mas hoje se tenta retomar por meio de eufemismos, lobby político e, particularmente no Brasil, ativismo judicial.
Se você quiser pensar que “nesse caso há uma exceção” seja honesto consigo mesmo e diga: “eu acho que a Igreja bilimenar está errada. Eu sou maior que a Igreja e posso pensar assim sem problema.”
Você tem o “direito”de pensar assim, porém saiba de um coisa e tenha consciência disso: o orgulho (porque esse tipo de pensamento é puro orgulho) foi o motivo da queda de Adão e Eva. Acreditar que “eu sou maior que a Igreja” é um risco bem grave para quem se diz católico.
Esse texto não pretende convencer nenhum católico sobre o ensinamento da Igreja (e olha que eu teria razões suficientes, não apenas religiosas, para tanto). Mas, apenas deixar claro este ensinamento.
Se você, que se diz católico, não concorda com a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e depositária da Fé… o problema não é meu, mas é seu com Deus. É duro, mas é a verdade.
Que Ele tenha misericórdia de mim, por muitas vezes me omitir diante do erro e de todos os meus pecados!
Tenha Misericórdia dos católicos que concordam com o assassinato de crianças no ventre materno!
Tenha misericórdia dos médicos que fizeram o aborto e de quem o promoveu (pagando até jato particular)!
Misericórdia do estuprador (que ele pague pelo o que fez e, se quiser, se arrependa antes que vá para o inferno que já escolheu para si).
E desejo a esta criança violentada e traumatizada – por duas vezes, friso – a Consolação Divina; que ela consiga encontrar a Paz e o Amor de Jesus em meio a essa escuridão a que foi tragicamente submetida. Que seja curada e liberta de todo o mal de que foi vítima (estupro e aborto).
Que a alma da criança abortada, que acredito ter sido acolhida na presença de Deus, reze por nós, aplacando a Justa Ira Divina.
P.S aos católicos e não-católicos: se você entendeu essa reflexão como uma ausência de empatia com a dor da criança violentada, sinto dizer que está mal de interpretação do texto.
Finalizo com uma frase de Santo Agostinho, que alias, estamos comemorando seu dia hoje, 28 de agosto: “Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo”. Santo Agostinho.
Paz e Bem!
Adaptado conforme página do Facebook de Felippe Ferreira Nery – https://www.facebook.com/felippe.f.nery
(*) Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida-Quitandinha-Petrópolis-RJ
Colaborador da Fraternidade em Formação da Ordem Franciscana Secular-OFS, na Diocese de Rio Branco-AC
Encontro todo 3º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 09h00 (atividades suspensas).