O isolamento social durante a pandemia trouxe muitos desafios para dentro de casa, ainda mais quando se têm três filhos, como na casa de Marcela Mastrangelo, que trabalha como terapeuta sistêmica. Mas o consumo de produtos culturais foi um fator que contribuiu para a melhoria dessa relação, não só para a família Mastrangelo, mas para cerca de 70% da população do Norte e Centro Oeste.
O dado foi apresentado na nova pesquisa do Itaú Cultural e Datafolha, divulgada na última quinta-feira, 22. A pesquisa entrevistou 2.276 pessoas de todo o país, durante maio e junho de 2021 e investigou os hábitos culturais dos brasileiros durante a pandemia. Os resultados são uma amostra que contribui para visualizar e representar parte das regiões.
A família Mastrangelo pode se encaixar facilmente nessa estatística, visto que um novo hábito surgiu para o casal Marcela e Washington. “Meu marido passou a assistir série, que é uma coisa que ele não tinha muito interesse, e hoje a gente consegue fazer isso juntos como casal, então essa foi uma novidade que o momento trouxe”, comenta Marcela, que sempre assistiu muito seriado, mas não em companhia.
Além do casal, a mãe conta que também melhorou a convivência da família como um todo, com os filhos Giovani, de 16 anos, Pietro, de 12, e Ana, de 9 anos. Pela faixa etária, Marcela ainda compartilha gostos com os filhos mais novos e ela explica que o “estar juntos” sempre foi prioridade na família, mas que a arte ameniza as dificuldades do momento vivido.
“A arte sempre trás ensinamentos, em todos os níveis, ela sensibiliza para o outro, para o diferente, para mudanças, sensibiliza para o hoje. Então, sim, creio que a gente teve mais saúde com o consumo (cultural), mais qualidade de vida”, afirma a terapeuta.
Pela pesquisa é possível constatar também o aumento do interesse das pessoas pelo consumo de atividades culturais on-line. Entre os produtos culturais online mais consumidos, em todo o país, neste período, estão as músicas, consumida por 79% dos entrevistados, filmes e séries (75%), jogos eletrônicos (43%), apresentações artísticas, como dança e teatro (40%), e livros digitais (40%). Todos os números aumentaram, com relação a pesquisa realizada no primeiro ano de pandemia.
Marcela, que já consumia arte de outras formas, passou a conferir mais lives, ouvir mais música e assistir mais conteúdo em casa, assim como os filhos, cada um dentro dos seus gostos pessoais. Na região Norte e Centro-Oeste, 59% dos participantes afirmaram que possuem mais interesse por atividades online durante a pandemia e 74% alegou que, com a maior disponibilização de conteúdos, conseguiu ter acesso a atividades culturais que, de outra forma, não teria.
O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, comemorou o aumento dos número, visto que tem sido um dos investimentos da empresa neste período. Ao constatar a carência no acesso à cultura na região Norte, ele afirma que há o interesse em realizar o projeto “Cena agora” que reúne apresentações online valorizando a dramaturgia de determinada região. Em maio deste ano, o projeto, realizado pelo Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, foi realizado no Nordeste. Destaca-se também a plataforma de streaming Itaú Play, que reúne produções de várias regiões.
Saúde mental
Cerca de 67% dos entrevistados da região Norte e Centro Oeste tiveram problemas de saúde mental nos últimos doze meses. Marcela reforça como foi desafiador e até “horripilante” os impactos da nova vida no início da pandemia, mas acredita que os diálogos constantes entre a família contribuíram para o equilíbrio de todos.
“Nós somos uma família que privilegia estarmos juntos, se relacionando, conversando… Senti no meu marido um pouco de tensão pelo momento incerto economicamente, até pelas condições de saúde, tivemos medos. Mas consigo visualizar, na minha família, um certo equilíbrio e muita comunicação, muito diálogo, colocar para fora as queixas, isso facilita muito a convivência”, relata.
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