A variante Delta tem se tornado predominante no mundo e, embora não haja até o momento nenhum caso identificado no Acre, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) afirma que tem monitorado, constantemente, a evolução dos casos de Covid-19 registrados, como forma de se antever à possível entrada da variante no Estado. No entanto, o fato de o sequenciamento genético das amostras serem feitas no Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém/PA, prejudica a rápida identificação das mutações em pacientes do Acre.
Atualmente, 145 amostras estão sendo analisadas geneticamente fora do Estado e, segundo o Laboratório Central de Saúde Pública do Acre (Lacen), o envio de amostras é parte da rotina no enfrentamento à pandemia, e visa detectar qual é a cepa circulante no Acre. Das 145 amostras, parte é de pacientes do interior do Estado, além da capital acreana, mas não são casos suspeitos da variante Delta.
Desde o início da pandemia, julho foi o terceiro mês com menor número de casos novos de Covid-19 e na última semana, o Acre chegou a ter três dias consecutivos sem nenhuma morte por Covid-19 no Estado, de acordo com dados da Sesacre. Entretanto, as equipes continuam em alerta, pois ainda que os resultados laboratoriais possam demorar até três meses para serem repassados ao Estado, um aumento súbito de casos poderia indicar que a mutação Delta teria chegado ao Acre, visto que a mutação tem alto índice de transmissão, se comparado à versão clássica do coronavírus.
“Nossa maior dificuldade é que necessitamos de resultados de sequenciamento genético e demora para sair esse resultado, o que implica numa demora na resposta, em caso da entrada desta variante. No entanto, se percebermos que está havendo um aumento no número de casos muito rápido, isso por si já é um sinal de alerta de que, possivelmente, a variante tenha chegado ao Estado”, destacou Gabriel Mesquita, chefe do Departamento de Vigilância em Saúde da Sesacre.
“Nossa maior estratégia é a imunização”
Apesar de as autoridades estarem em alerta para a iminente chegada da variante Delta, o Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo Coronavírus não prevê ações específicas para as mutações do vírus sars-cov-2, desta forma, a maior estratégia da Saúde é o avanço da imunização.
“O plano segue e é constantemente atualizado. Estamos atualmente na 8ª versão deste plano, mas o plano é o mesmo de Covid-19. É importante salientar que não há estudos que comprovem uma maior letalidade da variante Delta em comparação à COVID clássica, no entanto, já está claro na comunidade científica que esta variante possui uma alta taxa de transmissibilidade. Estamos atentos, realizando monitoramento e rastreamento de contatos de possíveis pacientes com a variante Delta”, reforça Gabriel Mesquita.
O perfil das pessoas que estão sendo contaminadas também é um dos fatores avaliados. “Se elas são vacinadas ou não, pois estudos apontam que a variante Delta se espalha muito mais rápido em pessoas não vacinadas. Então, atualmente, nosso foco é no fortalecimento das ações de vacinação, estratégias como redução no intervalo entre doses e avanço nas faixas etárias, uma vez que se tenha a cobertura vacinal de outras faixas etárias alcançadas”, finalizou Mesquita.
Vacinação nas fronteiras
Como o site A Gazeta do Acre informou em 27 de julho, outra variante que merece atenção do Acre é a Lambda, apontada como responsável pela maioria dos novos casos no Peru e Bolívia, países que fazem fronteira com o Acre. Desta forma, a vacinação nas fronteiras também tem sido prioridade na imunização.
Nesta semana, duas ações simultâneas foram realizadas em Plácido de Castro e Xapuri, que resultou na vacinação de mais de 1,2 mil pessoas durante os dois dias de ação. Agora, as equipes seguem para os municípios de Assis Brasil, Brasileia, Capixaba e Epitaciolândia.
Recusa das vacinas e baixa procura na segunda dose
Embora a vacinação contra Covid-19 no Acre esteja avançando consideravelmente, a recusa de vacina por parte da população ainda representa um desafio.
De acordo com Renata Quiles, gestora estadual do Programa Nacional de Imunização (PNI), não é possível mensurar quantas pessoas recusaram a vacina no Estado, no entanto, a recusa é perceptível nas unidades de Saúde.
“A recusa é percebida, primeiro porque as pessoas não buscam a vacinação de forma alguma, segundo porque há quem saia da fila quando percebe que não é o laboratório de preferência, sem contar aqueles que não retornam para completar o esquema com a segunda dose”, explica Renata Quiles, gestora estadual do Programa Nacional de Imunização (PNI).
Até o momento, 78,44% do público-alvo com idade acima de 18 anos foi vacinada no Estado, o que significa que 21,56% da população vacinável ainda precisa receber a primeira dose da vacina.
O médico infectologista Eduardo Farias aponta que fatores como as fake news relacionadas às vacinas e também o desconhecimento da população quanto ao avanço da medicina são fatores que contribuem para a recusa da vacina por parte da população.
“Aqui no Acre as pessoas são muito influenciadas, até por conta desse viés político, existe muita gente que ainda segue rede social ligada a eles e eles produzem muito material anti-vacina, anti-ciencia, negacionista, acho que isso influência muito dizendo que vacinas são perigosas. ‘Como pode em um ano fazerem uma vacina?”Estão usando a gente como cobaia’, então aquelas teorias de conspiração. Uma campanha negacionista, anti-vacina, produzindo vídeos com fake news para causar medo nas pessoas, então acho que isso tem a ver com como foi o resultado da cobertura vacinal aqui”, destaca Farias.
Para o infectologista, é preciso que as pessoas entendam que a medicina tem avançado, e graças a isso, o mundo pode ter acesso a vacinas seguras e eficazes em tão pouco tempo.
“A medicina avançou muito, a gente sabe muito mais coisa hoje, tem muito mais equipamento, computadores de última geração, temos modelos matemáticos que permitem que você pense em uma vacina totalmente teórica para depois você colocar em prática com mais confiança, então primeiro: nós temos hoje muita tecnologia na medicina que permite que a gente tenha esses avanços. Além disso, vacinas já são usadas há séculos em nós humanos e nas últimas décadas eles vem cada vez mais aprimorando, então vacina também não é um bicho de sete cabeças (…) não é nada além de um mecanismo que estimula seu sistema imunológico, então não tem chip dentro, não tem metais, nada disso”, esclarece Eduardo Farias.
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