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Defesa Civil avalia tempestades de setembro como ‘atípicas’ e alerta para eventos climáticos piores, nos próximos dias

Árvore caiu na Rua Coronél José Galdino durante primeira forte chuva de setembro (Foto: Daniel Scarcello)

Durante o mês de setembro deste ano, os moradores de Rio Branco presenciaram uma sequência de tempestades fora do comum. Foram quatro fortes chuvas, com ventos de até 78km por hora, que causaram grandes danos pela cidade. A Defesa Civil Municipal analisa os eventos como atípicos, tendo em vista o curto intervalo de tempo entre eles, alerta para próximas tempestades semelhantes ou piores, nos próximos dias, e aponta as ações humanas como a principal causa.

A primeira grande tempestade do ano, na capital, aconteceu em 11 de junho, mas, em setembro, as chuvas ocorreram nos dias 6, 9, 21 e 24. O Major Falcão, coordenador da Defesa Civil Municipal, explica que eventos desse tipo já ocorreram, mas com um intervalo de tempo maior entre eles.

“Raramente, passamos um ano sem ter um evento desses sem prejuízos, mas não tão intensos quanto os que estão acontecendo em 2021, que está um pouco mais atípico. Estamos presenciando eventos extremos acontecendo com mais frequência e menor espaço de tempo, então esses eventos podem agravar. Nós estamos inclusive com uma perspectiva  de que esses eventos possam ocorrer anualmente e não mais a cada 5 ou 10 anos como era usual, que são ciclos que a natureza apresenta, mas os ciclos estão cada vez mais perto, menores”, alerta o major.

Tal informação é reforçada por outra questão climática que afetou bastante a cidade neste ano, a falta de chuvas durante os meses de julho e agosto. O Major recorda que os últimos anos em que passamos tanto tempo sem chuvas foram em 2011, depois em 2018 e agora em 2021. Ou seja, o intervalo de tempo também parece estar reduzindo para este fenômeno.

Major Falcão é coordenador da Defesa Civil Rio Branco e tem atuado na linha de frente dos atendimentos das ocorrências das tempestades na capital.

Com relação às tempestades, as ações humanas, entre poluição, desmatamento e queimadas, são apontadas como as principais causas para as drásticas mudanças climáticas que a sociedade vêm sofrendo, segundo Major. Ele destaca que, em 2021, Rio Branco teve 900 ocorrências de queimadas urbanas a menos que o ano passado, mas que as queimadas rurais aumentaram 1,2% em comparação a 2020.

“Essas mudanças tem um grande percentual de responsabilidade do ser humano por tudo o que nós fazemos com a natureza. A quantidade de poluentes e partículas de carbono suspensa no ar são muitas, Então no momento de chuvas, desse choque de massas, acaba piorando ainda mais a situação”, afirma Falcão.

O fenômeno das tempestades

Com ventos de até 78 km por hora, tempestades derrubaram árvores e até uma torre de telefonia, na BR-317. (Foto: PRF)

Esperadas pelo menos uma vez ao ano, as fortes tempestades, como as presenciadas neste mês de setembro, ocorrem pelo choque de temperaturas. Durante a última chuva, do dia 24, dados de monitoramento da Defesa Civil apontam que a temperatura ambiente caiu de 34°C para 22°C em menos de 20 minutos.

“Nessa época, nós temos temperaturas muito elevadas, e as nuvens se formam numa altura maior. Esse choque de massa de ar quente que temos na superfície, com a massa de ar gelada  e a altura das nuvens formadas acaba causando esse tipo de fenômeno, que são as ventanias”, explica Falcão.

O Major detalha ainda que devido a maior altura em que as nuvens se formam é mais provável que ocorra a condensação das gotas de água, transformando-as em granizo, com ocorreu no dia 6 de setembro. “E quanto mais poluição essa chuva encontra até cair no solo, maior as pedras”, reforça.

“Quanto mais poluição essa chuva encontra até cair no solo, maior as pedras”, explica Major Falcão sobre a formação do granizo. Registro da chuva do dia 6 de setembro.

No último mês, as chuvas registradas duraram de 40 minutos a 1 hora, afetando até 20 bairros da cidade. Os ventos chegaram até 78km por hora destelhando casas, derrubando árvores e até uma torre de telefonia. O Major afirma que a Defesa Civil está se preparando para outros eventos semelhantes ou piores que podem ocorrer até o dia 15 de outubro, mas alerta que a tais mudanças são um retorno das ações humanas.

“A natureza nos dá respostas, estamos com nossos mananciais mortos, estamos com uma grande quantidade de esgoto e de lixo em natura, ocupações irregulares das margens de igarapés e rios, destruição das matas ciliares, todo um conjunto de ações humanas que acaba gerando todos esses transtornos e catástrofes que a gente vem presenciando no mundo todo”, enfatiza.

Veja mais em: Cinco dias depois, Defesa Civil ainda atende notificações da última tempestade

Daniel Scarcello: