Somente nos seis primeiros meses de 2021, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência atendeu 64 ocorrências de tentativas de suicídio na capital acreana, o que representa mais que a metade das ocorrências registradas em todo o ano de 2020, que teve 113 casos, enquanto em 2019, foram registradas 115 tentativas. Um número elevado que chama a atenção para este problema de saúde pública, mas que pode ser ainda mais grave, devido às subnotificações no período de pandemia.
Dos dados disponibilizados pelo Samu, chama a atenção o fato de que agosto foi, por dois anos consecutivos, o pico de registros deste tipo de ocorrência, sendo 17 casos, em agosto de 2020, e 12, em agosto de 2021. Já no ano de 2019, o pico de chamados ocorreu em setembro, com 15 chamados.
Quando se trata de outras violências autoprovocadas, com a chamada ideação suicida, foram 25 casos registrados, em 2019, 35, em 2020, e outros 22, somente no primeiro semestre deste ano, o que reitera o grave impacto emocional que a pandemia proporcionou à população.
“Todo plantão tem alguma alguma tentativa de suicídio, alguma ideação suicida, ingesta de medicação ou alguma autoagressão, mas existe sim a subnotificação, principalmente agora, no período de pandemia, a gente teve muitos casos de tentativa [de suicídio]”, relata o médico Pedro Pascoal, coordenador do Samu e da Rede de Urgência e Emergência da Sesacre.
De acordo com Pascoal, o apoio de familiares e pessoas próximas é fundamental no apoio a essas pessoas para prevenir o suicídio, que ainda hoje é uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Anualmente, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que de HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios.
“A orientação que a gente passa é que mantenha a calma, que ligue para o 192, saiba explicar realmente o que acontece, tenha à mão sempre as medicações que a pessoa já faz uso pra informar pra gente o que foi ingerido, a quantidade, há quanto tempo foi ingerido e, se for uma situação recorrente, se já existe relatos de que o paciente está tentando se matar, a orientação que a gente passa é que não deixe as medicações próximo do paciente, faça uma avaliação da rotina que o paciente está tendo”, orienta.
Pedro Pascoal destaca, ainda, que a pessoa com ideação suicida tende a demonstrar sinais, por isso, é importante que a família e amigos próximos estejam sempre atentos.
“O paciente que, de fato, executa a ação de tentativa de suicídio, não é uma coisa que ele planeja do dia para a noite, ele sempre deixa sinais. As conversas passam a ser direcionadas, hoje com a internet ele acaba procurando [informações] então, se houver algum tipo de suspeita de ideação suicida, é importante que os familiares tenham acesso às redes sociais, que os amigos deem atenção ao paciente”, destaca Pascoal.
2020 teve recorde de mortes por suicídio no Acre
Embora a Secretaria de Estado de Saúde não tenha divulgado dados referentes aos primeiros seis meses de 2021, Boletim Epidemiológico aponta que, desde o início da série histórica, em 2010, o ano de 2020 foi o que mais concentrou o número de óbitos por suicídio no Estado, com 67 casos, coincidindo com o cenário da pandemia de Covid-19.
Os municípios com maior porcentagem de óbitos foram Rio Branco com 45,6% do total, Cruzeiro do Sul, com 10,6%, e Tarauacá, com 8,8%. Das mortes registradas, 72,9% dos óbitos foram do sexo masculino e 22% do sexo feminino. Já em relação à idade, a faixa etária com o maior número de óbitos foi a de 25 a 34 anos, com 31,5%, seguida pela faixa de 15 a 24 anos com 28,5%.
Quando se trata de violência autoprovocada, no período de 2010 a 2020, foram notificados, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 3.503 casos de violência autoprovocada, o que representa um aumento gradativo das notificações, com redução, em 2018, retomando em 2019 com 834 notificações. No ano de 2020 houve uma redução de 29% em relação ao ano de 2019.
Os municípios com maior porcentagem de notificações foram Rio Branco, Brasiléia e Cruzeiro do Sul com 63,2 %, 7,4% e 6%, respectivamente.
Onde buscar ajuda?
No mês dedicado à prevenção do suicídio, A Gazeta do Acre traz um mapeamento de todos os serviços de saúde disponíveis, em Rio Branco, onde você pode procurar ajuda, caso precise de apoio psicológico ou conheça alguém que necessita deste acompanhamento. São pontos espalhados por toda a cidade, geridos pela Prefeitura Municipal de Rio Branco ou Secretaria de Estado de Saúde.
Para conferir, basta clica nos pontos amarelos do mapa e visualizar mais informações sobre cada local, ou após clicar em cada ponto amarelo, clica na seta ↵ para ser direcionado via GPS.
Além dos pontos físicos de atendimento, a Prefeitura de Rio Branco disponibiliza também o Telessaúde, telefone por meio do qual as pessoas podem ligar para conversar com um profissional qualificado. O número é: (68) 3216-2400.
Setembro Amarelo
O dia 10 de setembro é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas embora a campanha aconteça durante todo o ano, o mês é marcado pelo Setembro Amarelo. Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente as ações.
Todos os anos, são registrados cerca de 12 mil suicídios no Brasil e mais de 1 milhão no mundo, retrato de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.